Certamente você conhece alguém – ou conhece alguém que conhece alguém – que passou a fazer pão de fermentação natural durante a quarentena. Eu, pelo menos, tenho vários amigos que viraram padeiros handmade.
E você também deve conhecer alguém que tem abdicado de alimentos com glúten, derivados de leite, gorduras saturadas e trans, açúcar ou sódio, por intolerância ou opção. Amigos veganos, vegetarianos ou que, ao menos, têm aderido à ‘segunda sem carne’, na minha rede têm dezenas. Na sua, suponho, também.
Se você não frequenta, certamente conhece restaurantes que têm priorizado insumos de produtores locais, livres de agrotóxicos, com produção em menor escala e que se tornaram adeptos do máximo aproveitamento dos alimentos e da slow food. Aqui em Santos temos alguns, inclusive de chef vencedor de reality.
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Temos acompanhado as gigantes do mercado, abatedoras e produtoras de carne animal, lançando carnes vegetais, com nomes como ‘incrível burger’ e novas marcas surgindo, de carona nesse movimento, focadas na ‘comida do futuro’. Aliás, um estudo do banco de investimento Barclarys aponta que, em 2029, o mercado de carnes vegetais deverá chegar a um faturamento de US$ 140 bilhões ao ano, o equivalente a 10% de todo o mercado de produtos de origem animal.
Foodie Revolution
Orgânicos, superfoods (chia, goji berry, amaranto, óleo de coco, kefir e afins), hortas urbanas, alimentos com rastreabilidade, softwares unindo os restaurantes aos produtores rurais, consumo consciente e tudo o que já foi mencionado acima fazem parte da chamada foodie revolution, encabeçada pelos millennials, mas que também tem adeptos, como o chef e ativista inglês Jamie Oliver. Desde 2010, Jamie tem uma fundação voltada à promoção de hábitos alimentares saudáveis e realiza o Food Revolution Day, que é replicado no Brasil, desde 2013.
Uma matéria da Forbes explica como os millennials estão desafiando a indústria de alimentos, da fazenda à mesa, com novos hábitos de consumo. De acordo com a reportagem, esta geração está faminta por comida melhor e consideram ‘foodies’ aqueles que conectam a comida a um status social, mas que conseguem se divertir num jantar fora, mesmo com pouco dinheiro. E o que realmente os diferencia das gerações anteriores é a preferência por orgânicos, produção local, glúten-free, comida vegana e nutritiva. Ah, e eles esperam pagar preços justos por alimentação, também.
Obviamente, toda essa revolução está mexendo com a indústria do food service, de ponta a ponta, e, tanto produtores, como grandes varejistas e restaurantes estão revendo conceitos e se reposicionando.
Baby boomers X Millennials
Atender a essa nova demanda não tem sido e não será fácil para os grandes produtores, que, há muito, se concentram em ofertas baratas e convenientes – como enlatados, embutidos e congelados. O fato é que os pilares da alimentação que levaram os baby boomers à prosperidade eram construídos de açúcar, gordura, sal e conservantes, ingredientes desdenhados pela nova geração.
De acordo com um artigo da Fortune, já em 2015, somente as comidas empacotadas perderam 1% do mercado norte-americano, enquanto os orgânicos ganharam 11%. Além disso, os 25 maiores produtores de alimentos dos Estados Unidos sofreram uma perda de US$ 18 bilhões desde 2009 – estamos falando de um país cujos hábitos alimentares e estilo de vida, até então, valorizavam a praticidade da junk food (a comida não-saudável).
Já, uma pesquisa da Euromonitor apontou que em 2019 o mercado internacional de produtos vegetais faturou US$ 446 bilhões, o equivalente a 30% da venda de todos os produtos industrializados.
Toda essa revolução ganha ainda mais força porque a geração dos millennials não está somente preocupada com a própria saúde, mas com o fim dos maus tratos animais e com os impactos ao meio ambiente. Neste contexto, a consultoria americana CB Insights identificou que a produção de ‘carne’ em laboratório consome 82% menos água e emite 79% menos poluentes do que a pecuária de corte.
Quer mais? Existe um grupo de cientistas finlandeses que está trabalhando na produção de uma proteína a partir do ar, com bactérias provenientes do solo e alimentadas com hidrogênio, extraído da água por eletrólise.
Estamos ou não em uma foodie revolution?