Imagine uma planta que cura a estupidez humana

Por Danilo Tavares

Imagine uma planta que é capaz de produzir tecidos, fibras, cordas e papel com maior resistência e durabilidade e ao mesmo tempo que sua produção possua menor impacto no meio ambiente e menor custo. Deixaríamos de consumir muito petróleo e economizaríamos muita água, recursos utilizados atualmente na produção desses produtos. E mais incrível ainda é se dessa mesma planta fosse possível produzir medicamentos e tratamentos medicinais preventivos, paliativos e curativos para doenças como câncer, dores crônicas, enxaqueca, Alzheimer, glaucoma, anorexia, náuseas, inflamações, esclerose múltiplas, epilepsia, Parkinson, depressão, transtorno de ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade, entre outras. Seria incrível, né?

Pois é, essa planta existe. Se chama cannabis, popularmente, maconha e cânhamo. Historicamente, as maconhas vêm da região do Himalaia, desde a Sibéria até a Índia, do Afeganistão à China, onde são usadas há pelo menos 5 mil anos. Com elas, eram produzidos papel, roupa, fibra, corda e também serviam para usos medicinais e ritualísticos.

Sidarta Ribeiro faz uma analogia muito interessante onde diz que a maconha está para as plantas assim como o cachorro está para os animais, pois é uma planta que foi cultivada, domesticada e selecionada para produzir benefícios aos humanos, é uma planta com uma diversidade de espécimes tão grande quanto as de raças de cachorro.

E assim como tem cachorros, que nos servem para caça, defesa, puxar trenós na neve ou para brincar com as crianças, a cannabis também tem uma diversidade de benefícios desenvolvidos com a interação cultural humana. A cannabis, como é hoje, não é obra puramente de Deus ou da natureza, é uma criação milenar da criatividade coletiva humana. Tecnicamente, pode ser enquadrada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

Trago esse tema da maconha para apontar algumas práticas econômicas e políticas quem vem acontecendo em diversos territórios, alguns de seus resultados e as perspectivas para o crescimento econômico, a geração de trabalho e renda e a melhoria de qualidade de vida das pessoas.

Porém, como é um assunto tabu no Brasil, sendo uma sociedade com forte herança colonial e patriarcal, a população ainda se comporta com muita resistência à escuta e ao diálogo, mas o capitalismo vencerá esse ranço em algum momento.

Legalizar é questão de tempo

A questão não é “se” a maconha será legalizada no Brasil, é ‘como e quando’ será legalizada. E é obvio que se legalizar, o mercado canábico no Brasil será gigantesco. Já é gigante vendendo maconha estragada no meio da violência cotidiana, imagina se organizar o mercado direitinho, de forma que dê segurança e transparência às pessoas – produtoras e consumidoras. Isso é papo para muito além da ideia de uso pra ficar doidão.

É urgente aprofundar os estudos e pesquisas para formulação de uma política socioeconômica para o mercado da cannabis. Demorar para legalizar e não ter um plano de implantação que fortaleça o mercado dos brasileiros e brasileiras fará com que reproduzamos o comportamento de Estado colonizado, porém, agora aprofundado pelo capitalismo global. Vão usar nossas terras, nossa força vital e levar o lucro embora. Já está na hora de tratar isso com um pouco mais de inteligência. Papo pra adulto de pensamento autônomo.

Cannabusiness: a revolução canábica

Esse assunto será abordado também em um painel de diálogo do Festival Criativar com o tema ‘Cannabusiness: a revolução canábica’, quando eu mediarei a conversa com os convidados Viviane Sedola, fundadora da startup Dr. Cannabis, plataforma que tem a missão de apresentar a terapia canabinoide como alternativa segura, facilitando o acesso a informações, médicos e produtos; Marcos Botelho, fundador e gestor da SuperJobs Venture Capital; e Fabrício Pamplona, neurocientista, empreendedor, psicofarmacologista do sistema endocanabinoide e referência mundial no uso medicinal de derivados da Cannabis. Então faço aqui uma introdução argumentativa com o intuito de provocar algumas reflexões.

Todos usamos drogas, começamos a dar açúcar para as crianças bem cedo – cotidianamente e em larga escala – e quando adultos usamos café diariamente. Muitos adultos também usam tabaco e álcool de forma rotineira, iniciando na adolescência. Então, o discurso de que a maconha é a porta de entrada para outras drogas, além de ser um discurso simplista, é uma afirmação falsa. Reafirmo que não existe uma única espécie de maconha, são maconhas no plural, centenas delas e cada uma possuindo seu conjunto próprio de substâncias.

Proibir uma planta por possuir canabinoides é um contrassenso que ignora o fato de que todas as pessoas possuem e produzem uma enorme quantidade de canabinoides endógenos em nosso cérebro. Esses canabinoides, tanto os produzidos no cérebro como os inalados em um cigarro, inalados por vaporização de óleos essenciais ou tomados em gotas de óleos concentrados, entram numa série de receptores específicos ao longo do corpo humano, sendo que a maior concentração deles está em nosso cérebro. Atualmente, o que os principais estudos científicos neurológicos apontam é que a cannabis faz bem.

Afinal, faz bem ou mal?

Mas ela não faz nenhum mal? Depende da qualidade da maconha, da forma de uso e é preciso levar em consideração que existem os grupos de risco, assim como toda substância tem. Eu tenho uma amiga que se comer comida com cebola pode até morrer de falta de ar por conta de sua garganta inchar, é alérgica. Eu me alimento com muita cebola e estou bem, obrigado. Existem estudos que demonstraram que o uso precoce (antes dos 18 anos de idade) e abusivo está associado ao aumento de incidência de psicose, porém ainda não há um estudo que aponte a maconha como causa da psicose. Esse estudo de Harvard aponta que a incidência de psicose está mais propensa a ter como causa uma herança genética e que o uso precoce e abusivo pode precipitar a aparição da psicose. O que é diferente de causá-la.

Como vamos proteger e cuidar melhor das pessoas em relação a cannabis, proibindo ou regulamentando? Se a maconha com alto teor de THC, uma das principais substâncias encontrada nessa planta, usada em baixa quantidade é muito eficaz para tratamento de depressão – somos 12 milhões de brasileiras e brasileiros com depressão – e o uso excessivo de maconha com alto teor de CBD pode agravar a depressão, qual será a forma de proteger e cuidar dessas pessoas?

Proibindo não é possível distinguir a espécie de cannabis que está sendo comercializada para saber qual o conjunto de substâncias presentes e nem a qualidade em que ela chega até o consumidor, muitas vezes mofada ou com aditivos químicos de conservação. Legalizando e regulamentando é possível fazer essa diferenciação e garantir para todas as pessoas o que de fato estão consumindo, com estudos científicos, fiscalização, garantias e direitos do consumidor.

Por essas questões apontadas acima, e por muitas outras, a cannabis é uma planta capaz de produzir muitas disrupções sociais e econômicas. Com a legalização em diversos países, o setor produtivo canábico está produzindo um cenário com alto índice de lucratividade e de empregabilidade. Diversos Estados norte-americanos, além de Portugal, Uruguai, Argentina, Peru, México, Israel, entre outros tantos locais pelo globo, estão tratando a questão da cannabis de forma mais inteligente e ultrapassando o obscurantismo proibicionista em torno de uma planta.

Israel é um dos países pioneiros e que mais tem avançado em termos de pesquisa, legislação, treinamento e desenvolvimento da indústria da cannabis medicinal e que atualmente está construindo um acordo de cooperação para transferência de tecnologia canábica com a Argentina.

O mercado global da maconha

Em 2018, após a aprovação da lei agrícola nos EUA, ocorreu um aumento de demanda exponencial pelos produtos, principalmente, em países desenvolvidos como Canadá, França, EUA e Holanda. E um relatório publicado pela Global Market Insights, Inc., mostra que o tamanho do mercado de canabidiol (apenas uma parte do mercado canábico) mundial deverá ultrapassar US$ 89 bilhões (R$ 477 bilhões) em receita até 2026. Muitos países legalizaram o cultivo de cânhamo em vez do cultivo de cannabis, uma vez que essa compreende grandes quantidades de THC.

A pesquisadora de cannabis New Frontier Data (NFD), sediada em Washington, publicou em 2019 um novo relatório onde analisa em detalhes as previsões e tendências deste mercado nos EUA. Chamado de ‘A Perspectiva Industrial do Mercado Americano de Cannabis 2019’, o documento contém mais de cem páginas e visa investidores, donos de negócios, governos, acadêmicos e pesquisadores.

Um dos principais resultados do relatório aponta que a venda anual nos EUA pode chegar a US$ 30 bilhões em 2025. Para citar outro exemplo, o Peru está investindo na indústria do canabidiol e seus derivados, que têm sido legalizados recentemente pelo governo para fins medicinais e terapêuticos. A expectativa é que até 2026 a participação no mercado de canabidiol no Peru deverá registrar um CAGR notável de 59,5%. O CAGR (Compound Annual Growth Rate) é considerado um dos principais indicadores para analisar a viabilidade de um investimento.

É tão promissora e inevitável a legalização da maconha que, atualmente, existem cinco fundos de investimentos na bolsa de valores Nasdaq que aplicam exclusivamente na indústria de maconha. Esses fundos investem pelo mundo em empresas relacionadas ao processo de cultivo legal, produção, ou distribuição de produtos de cannabis para fins medicinais ou não.

E esse mercado ainda está muito concentrado, pois apenas empresas de três países são responsáveis por deter 90% do capital investido por esses fundos. São eles, o Canadá, com 55%; os EUA, com 27% e a Inglaterra, com 10%, sendo 2/3 dos investimentos para o setor farmacêutico.

Para finalizar eu trago para um campo mais filosófico e holístico, e deixo uma questão para reverberar nas nossas cabeças sem pressa de encontrar a resposta: proibir uma pessoa de plantar em sua casa ou propriedade alguma espécie de planta, faz sentido?

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