Lewis Hyde é um intelectual estadunidense que escreve sobre os bens comuns.
Ele estuda esse tema há muitos anos, e um de seus livros mais importantes se chama A Dádiva: como o espírito criativo constrói o mundo. É um clássico contemporâneo, extremamente lido no Vale do Silício, onde são desenvolvidas a maior parte das inovações que nós utilizamos no nosso dia a dia.
Hyde, no entanto, no capítulo de apresentação, diz que seu livro foi escrito para poetas. Sim, poetas, aqueles que Platão queria fora de sua República por conta da discórdia que causam. Hyde explica sua predileção afirmando que são justamente os poetas que captam a essência de todo processo criativo, e que sem eles o mundo não ganha contorno.
Uma cidade que será sede do encontro mundial de cidades criativas jamais assumirá sua plena forma sem afirmar o labor dos poetas e seus poemas (a poesia não existe apenas no poema, mas potencialmente em tudo). Poetas e poemas, porém, não sobrevivem sem leitores e justamente por isso aproveito este espaço para perguntar se você está dando sua contribuição à criatividade: qual poeta santista você já leu hoje? Não sabe como responder? Nem por onde começar a procurar?
Dou algumas dicas, então. A primeira delas é acompanhar o trabalho constante do pessoal do Fórum da Cidadania de Santos. Sob a batuta do Luis Soares, eles promovem regularmente festas de livros onde os poetas são homenageados. Sempre ofertam oficinas, também, com escritores que são os principais expoentes de nossa cidade. A segunda sugestão é ficar de olho na programação de lançamentos da Realejo Livros, nossa livraria de rua, agora com seu indefectível parklet. A terceira opção é, ao final dessa coluna, encomendar algumas das obras que vou citar.
Da nova safra de livros de poetas santistas, há o Torrão e outros poemas (Patuá), de Paulo de Toledo. Ele, herdeiro de Leminski e, portanto, dos concretos e tropicalistas, destaca-se por sua voz singular, crítica e bem-humorada. Neste trabalho, mergulha mais fundo na nossa cidade e suas contradições. “Peço poesia no sinal/o tio, todo prosa, fecha/a janela, não faz mal”.
E há também Como Domar um Coração Selvagem, trabalho de estreia da poeta, performer e fotógrafa Ornella Rodrigues, um livro em que palavra e corpo se fundem na construção de uma obra de amor. Ornella é uma mulher negra e, embora sem essa informação seja impossível compreender sua obra, desenvolve uma poesia que não é para ser recitada em saraus, mas sussurrada ao pé do ouvido.
Destaco também outros quatro poetas da cidade reconhecidos nacional e internacionalmente. Ademir Demarchi, editor da revista BABEL, uma das mais importantes publicações contemporâneas de poesia, é essencial de ser lido; Flávio Viegas Amoreira acaba de publicar Pessoa Doutra Margem, em homenagem ao poeta português Fernando Pessoa, e já acumula mais de dez títulos; Marcelo Ariel, que está para lançar Ou o silêncio contínuo, sua poesia reunida de 2007 a 2017: “Suprema alegria/sentir a morte na/própria carne/morrer/para que a poesia/possa viver”; e Manoel Herzog, também romancista com grande reconhecimento, um sonetista profano, autor de Sonetos de Amor em Branco e Preto, entre outros. Vejamos se Lewis Hyde estava certo.