Branquela é minha fiel companheira de aventuras - que não saiba a pretinha hiperativa que habita o meu quintal - e é com ela que eu desbravo cada canto dessa cidade. Nua.
A veia de jornalista me instiga a desbravar lugares e o pedal me ajuda a encontrá-los. Uma das minhas expedições prediletas tem a cor verde, em várias nuances, com muitos detalhes coloridos. E um cheiro curioso, uma mistura inebriante de mato e maresia.
São mais de cinco quilômetros de extensão, que abrigam cerca de 80 tipos de flores, espalhadas em 1300 canteiros, além de outras quase 1800 árvores de várias espécies. Um cinturão verde, que desfila majestoso do Emissário à Ponta da Praia, exibindo contornos que impõem respeito aos que o acompanham pela movimentada avenida ou à beira-mar, naquele passeio maroto de fim de tarde.
Sua grandeza impressiona tanto que ele foi parar no famoso livro dos recordes, aquele gringo, da tal marca de cerveja irlandesa. Ele também é morada e porto de parada de dezenas de espécies de aves, muitas endêmicas. As plaquinhas ali espalhadas revelam: são pelo menos 100, as aves de Santos.
Só que, mais que flora e fauna, o jardim da orla da praia guarda muita história e abraça personagens de expressão nacional e até internacional. Um rolê de bike por seus caminhos me revelou pelo menos 38 monumentos, entre estátuas, bustos, placas comemorativas e conjuntos escultóricos que contam partes significativas da história da cidade, do Brasil e do mundo.
Bem ao lado do Emissário, no início do percurso (na verdade, no final, no meu caso), uma homenagem aos imigrantes japoneses chega a arrepiar, representada por um casal com o filho, chegando ao Brasil, pelo Porto de Santos. O homem aponta em direção à nova terra e, ao lado, uma pedra traz a inscrição ‘À Esta Terra’, em português e japonês.
Na altura do Canal 1, Saturnino de Brito, o engenheiro sanitarista que projetou os canais de Santos e a Ponte Pênsil, em São Vicente, segura o projeto dos canais em uma das mãos. Por pouco ele não se junta ao poeta santista Martins Fontes, considerado entre os dez melhores da língua portuguesa. E ao surfista Osmar Gonçalves, um dos pioneiros do surf no Brasil, e a Cristóvão Colombo em sua caravela. Todos na direção do Canal 2.
Nas proximidades do Gonzaga – prepare-se, essa informação pode chocar você – os famosos felinos que fazem parte do álbum de fotos de todo bom santista e de qualquer turista: um leão e um … jaguar. Sim, um jaguar que não aguenta mais ser chamado de leoa.
Próximo ao Canal 3, o Relógio do Sol, uma invenção egípcia de mais de 4 mil anos, marca as horas com a sombra projetada pela luz solar que incide sobre uma haste de metal no centro. E por ali também está Vicente de Carvalho, ‘o poeta do mar’, que flutua sobre as ondas cercado por ninfas. Aliás, é ele que dá nome àquele trecho da avenida da praia (tem uma matéria bem legal falando sobre os vários nomes da avenida da orla lá no portal da Revista Nove).
O poeta está muito bem acompanhado da ‘poetisa das rosas’, Maria José Aranha de Rezende e da escritora Lydia Federici, que estão a poucos metros de distância. Um trecho do jardim todo dedicado à poesia. Inspirador, né?
Pelas curvas do jardim ainda esbarramos com Santo Antônio, ali no burburinho do CPE (na verdade, ele está no meio da avenida, em frente à igreja que leva o seu nome), com Santos Dumont, José de Anchieta e outras figuras, que fazem do rolês pela orla um passeio em meio a uma galeria de arte a céu aberto.
Mas o que a nossa galeria tem que talvez nenhuma outra do mundo tenha, além de todo esse verde, é a possibilidade de uma pausa no meio do roteiro para uma água de coco, um chopp artesanal ou um sanduba monstro no pratinho de isopor. Bora, branquela.