É da cultura santista aproveitar uma boa sessão de cinema e não é a toa que a cidade é considerada uma das melhores do Brasil em termos de frequência de salas de cinema
As primeiras salas
Santos também teve sua época áurea do cinema de rua. No começo, a infraestrutura das salas de exibição era um tanto quanto acanhadas e o ambiente sem conforto algum, e na maioria das vezes tudo acontecia manualmente e na base do improviso. Mesmo assim, não havia nada como aquilo antes, então sua chegada fez a alegria de todos na região.
A primeira manifestação de cinema na Baixada Santista foi em 1897, com exibição de “fotografias animadas”, no Recreio Miramar (Praia do Boqueirão) e chamou a atenção do público e da publicidade local. Já em 1899, o “Cynematographo” tinha sido inaugurado e atraia grande concorrência. Ele ficava na Rua de Santo Antônio (atual rua do Comércio), no centro histórico. Mas só em 1903 teríamos outra oportunidade de ver a nova arte que estava revolucionando a Europa e América do Norte. Desta vez no Teatrinho Variedades (Praça dos Andradas esquina da Rua 15 de Novembro) exibindo “A Vida e Paixão de Jesus Cristo” em quadros coloridos e com movimentos.
Em 1904 a cinematografia já havia tomado conta da cidade. No Parque Miramonte havia o Salão Fantástico exibindo filmes americanos, e no mesmo ano, o Teatro Guarani trouxe inúmeras inovações para o cinema da cidade. Segundo a imprensa, o cinematógrafo era o mais aperfeiçoado aparelho que já teve por aqui. “Sansão e Dalila” e “Dom Quixote” foram alguns dos filmes exibidos, e detalhe: todos em cores!
Até então, o Teatro Guarani era o principal cinema da região, porém em 1908, ele passou a ter vários concorrentes como o cinema Candbourg no Redondéu (Praça de Touros) da Rua Amador Bueno, com sessões ao ar livre quando não chovia. Um cinema ao ar livre nos jardins do Parque Balneário Hotel, no Gonzaga, também foi inaugurado na época. A partir de então, os cinemas neste estilo – ao ar livre – começaram a ditar moda e o Miramar, lá no Boqueirão, não quis ficar pra trás e inaugurou um também, com exibição aos sábados e domingos.
A partir de março de 1909 o Clube XV oferecia domingueiras cinematográficas aos associados e familiares, na sede da Rua Amador Bueno (esquina da Rua Constituição). Também veio o Circo Martinelli, instalado num terreno da Rua Amador Bueno e apresentava a grande companhia de atrações e variedades, com iluminação elétrica e o único cinematógrafo americano, algo nunca visto antes na cidade.
Talvez um dos cinemas mais conhecidos foi o Cine-Teatro Coliseu, pois seu prédio também serviu como um dos primeiros teatros santistas, já foi cassino, arena, abrigou lojas e até um posto de gasolina, e quase foi demolido, pois se tornou um “elefante branco” (sem funcionalidade alguma).
Em julho de 1909 era solenemente inaugurado o cine-teatro mais chique do município, o Coliseu Santista. Tinha 800 poltronas, além frisas e galerias, a melhor das estruturas. No final das contas, tornou-se uma das melhores casas de filme do mundo, na opinião de ilustres visitantes conhecedores do assunto. Mais para frente, em 15 de março de 1934, o tão conhecido Cine Roxy era finalmente apresentado aos santistas, com a exibição do filme “Cântico dos Cânticos”.
Não podemos esquecer do Bijou Salon de Gustavo Pinfild & Filho, com 400 lugares, ficava na Rua 15 de Novembro, e ficou famoso por exibir filmes eróticos.
E um crossover interessante entre cinema e futebol também ocorreu nos tempos áureos do Santos da década de 50. Quando o Pelé era o líder de um time que colecionava vitórias país afora, o Santos Futebol Clube quis entrar na onda do cinema em Santos e então criou uma sala de projeção cinematográfica, com acesso do público em geral e sua programação era divulgada em anúncios nos jornais.
Não podemos deixar de citar o Cine São Bento, no Valongo, que ao longo do tempo foi aprimorando sua miserável estrutura e se tornou o primeiro de Santos a ter o piso irregular, de modo a permitir que a plateia visse a tela. Ele fazia a alegria da criançada nas matinês de domingo.
Infraestrutura na cidade
Ao passar das décadas, o cinema em Santos foi se aprimorando cada vez mais até virar referência, seja pelas pessoas envolvidas ou até mesmo pela excelência das programações de suas salas.
Cinematografistas dos mais dedicados também estiveram sempre muito bem envolvidos com tudo por aqui e juntos fizeram o cinema evoluir para que hoje possamos usufruí-lo do melhor jeito. Não podemos deixar de citar a Empresa Santista de Cinemas, responsável por grande parte dessas conquistas.
Ao longo dos anos, o Cine Atlântico foi referência em aparelhagem e assegurava o máximo em nitidez de projeção e de som. Ele foi, muitas vezes, o ponto de convergência da elite santista. E uma curiosidade, a renda total da noite de inauguração dele foi revertida às diversas instituições de caridade de Santos.
O tão conhecido Roxy, funcionando até hoje – diferentemente de quase todos os outros citados no texto – é um dos mais importantes da história em Santos. Sua infraestrutura, ventilação e aparelhos modernos foram pioneiras, e ao passar dos anos sua rede teve uma ampliação para shoppings da região.
Sem esquecer de outros nomes como o Cine Paramount, o Miramar, Cine Carlos Gomes, Cine Avenida, Cine Iporanga, Cine Indaiá, entre outros, que fizeram parte dessa trajetória do cinema em Santos e possuíram salas com a infraestrutura de primeira. Além de fecharem parcerias com distribuidoras de renome como Paramount, Fox, Columbia e Universal, um triunfo para a época.
Além disso tudo, tivemos o mais antigo Cineclube do Brasil, que durante muitos anos sobreviveu sob a direção de Maurice Légeard e rendeu muitos frutos como a Cinemateca. Também temos por aqui o Instituto Querô, uma organização da sociedade civil que estimula talentos através do audiovisual e desenvolve o empreendedorismo para jovens amantes do cinema e que vivem em condições de alto risco social.
Santistas no cinema
A cidade de Santos sempre foi famosa por ser um ‘celeiro’ de talentos, no cinema não foi diferente. Seja atuando, dirigindo ou nos bastidores, inúmeros Santistas (natos e de coração) já deram o nome nas telonas por aí. Aqui vão alguns artistas da nossa cidade que fizeram sucesso no cinema:
Começando por Ney Latorraca, que é, sem dúvidas, o mais bem-sucedido em questão de atuação nas telonas. Estreou em 1970 e fez diversos filmes como “Anchieta, o José do Brasil” (1977), “Beijo no Asfalto” (1984), “Ópera do Malandro” (1986), “Viva Sapato” (2002), “Irma Vap, o Retorno” (2006), entre outros.
Outro grande nome da nossa cidade, Lolita Rodrigues, famosa no rádio e na TV, no começo de sua carreira fez o filme “Quase no Céu”, em 1949.
Paulinho Vilhena teve sua primeira experiência no cinema em 2004, com Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida. Teve destaque também em “Como nossos pais” (2017) e o atual “Turma da Mônica – Laços” (2019), sendo o pai do Cebolinha.
Rolou crossover com música também, “O Magnata” (2007) teve seu roteiro escrito por ninguém mais, ninguém menos que Chorão, do Charlie Brown Jr.
Graziella Moretto fez alguns filmes como “Cidade de Deus” (2002), “Não por acaso” (2007) e “O Martelo de Vulcano” (2003), filme da Ilha-Ra-Tim-Bum, clássica série da TV Cultura. Grazi já foi premiada no Festival de Paulínia como Melhor Atriz Coadjuvante.
Serafim Gonzalez (nascido em Sertãozinho mas que se radicou em Santos) fez diversos filmes, um deles foi “Acquaria” (2003), filme protagonizado pela dupla Sandy & Junior.
Plínio Marcos, pupilo de Pagu, atuou em “A Arte de Amar Bem” (1970) “Beto Rockfeller” (1970) e “A Santa Donzela” (1978). Plínio teve pelo menos dez filmes inspirados em obras de sua autoria.
*Contém informações do site Novo Milênio.
Toda essa história não poderia ter sido em vão. Merecidamente, nossa cidade foi eleita pela UNESCO como uma das oito cidades criativas no mundo do cinema, junto a cidades como Sydney, na Austrália, Roma, na Itália, entre outras. É legado e aclamação que você quer? Então toma!
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