José Bonifácio de Andrada e Silva é nome conhecido entre os santistas, mas sua grandeza é nacional, já que teve papel fundamental na independência do Brasil e, por isso, é conhecido como o 'Patriarca da Independência'
José Bonifácio nasceu em Santos, em 13 de junho de 1763, então Capitania de São Paulo; morreu em Niterói, em 6 de abril de 1838, mas é em solo santista que seus restos mortais estão, no Pantheon dos Andradas, juntamente com os de seus irmãos, Martim Francisco Ribeiro de Andrada, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva e um terceiro, que era padre, Patrício Manuel.
Bonifácio teve uma importante atuação como naturalista, notadamente na minerologia, tendo sido internacionalmente reconhecido ainda em vida, além de ter se destacado na política, como um notável estadista e – ainda – um grande poeta luso-brasileiro.
Membro de família da aristocracia portuguesa, seu pai, Bonifácio José Ribeiro de Andrada era casado com uma prima, Maria Bárbara da Silva, e tinha a segunda maior fortuna da cidade, que conquistou como mercante e ocupou diversos cargos e ofícios da Coroa Portuguesa.
Seu pai foi seu primeiro mestre, mas em Santos não era possível ir além do ensino primário, então, José Bonifácio mudou-se para São Paulo aos catorze anos de idade.
José Bonifácio e a escravidão
Após uma excursão científica pela Europa, que durou 30 anos, Bonifácio retornou ao Brasil, em 1819, aos 56 anos, agora Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, já com a Família Real aqui, e se deu conta de que velhos problemas ainda existiam. E o pior deles, segundo sua visão, era a escravidão.
O trabalhador brasileiro era quase exclusivamente o negro, e a economia se organizara em benefício de uma classe privilegiada. Bonifácio propôs, então, um extenso programa de trabalho, que incluía abolição do tráfico, extinção da escravidão, incorporação dos índios à sociedade, miscigenação orientada para suprimir choques de raças e de classes e constituir uma ‘nação homogênea’, transformação do regime de propriedade agrária com a substituição do latifúndio pela subdivisão de terras, preservação e renovação das florestas, localização adequada das novas vilas, aproveitamento e distribuição das águas e exploração das minas.
Como, desde 1808, D. João VI não nomeara ministro um brasileiro e, tendo José Bonifácio recusado os convites recebidos para atuar como ajudante dos indicados a ministros do rei, partiu para Santos onde seu irmão Martim Francisco era diretor de minas e matas da Capitania de São Paulo.
José Bonifácio e a independência do Brasil
O primeiro passo de Bonifácio no caminho do processo de independência do Brasil foi aceitar o convite para presidir a eleição dos membros da junta governativa provisória de São Paulo (as capitanias haviam sido transformadas em províncias, por decreto de D. João VI, governadas por juntas provisórias).
Nas eleições, Bonifácio recebeu aclamação de seu nome como vice-presidente e, como um dos secretários foi indicado seu irmão Martim Francisco. Então, em 23 de junho de 1821, José Bonifácio iniciava seu papel político no Brasil.
A Junta de São Paulo foi a primeira a reconhecer a autoridade do príncipe regente D. Pedro de Alcântara e, então, em carta de 17 de julho de 1821 ao pai, o príncipe menciona José Bonifácio como o homem “a quem se deve a tranquilidade atual da província de São Paulo”.
A carta a D. Pedro
Diante de um cenário tumultuado e com a possibilidade do retorno do príncipe a Portugal e de o Brasil voltar a ser colônia, José Bonifácio escreve uma carta ao príncipe D. Pedro, que era quase uma ameaça: “É impossível que os habitantes do Brasil que forem honrados e se prezarem de ser homens, e mormente os paulistas, possam jamais consentir em tais absurdos e despotismos. V. A. Real deve ficar no Brasil quaisquer que sejam os projetos das Cortes Constituintes não só para nosso bem geral mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo Portugal. Se V. A. Real estiver (o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso decreto de 19 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno número de desorganizadores, terá também que responder, perante o céu, do rio de sangue que decerto vai correr pelo Brasil”.
A carta chegou às mãos do príncipe no Rio a 1º de janeiro de 1822 e foi divulgada na Gazeta do Rio, em 8 de janeiro. Em carta ao pai, de 2 de janeiro de 1822, D. Pedro escreveu: “Farei todas as diligências por bem para haver sossego, e para ver se posso cumprir os decretos 124 e 125, o que me parece impossível, porque a opinião é toda contra, em toda a parte”.
D. Pedro tinha clara consciência da sua responsabilidade junto aos patriotas brasileiros, e estava disposto a desempenhá-lo. No dia 9 de janeiro, então, acabou declarando: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”
No mesmo janeiro, o príncipe, de 23 anos nomeou José Bonifácio, aos 60 anos, seu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino – o primeiro brasileiro a ocupar um cargo semelhante.
Rumo à Independência
No final de julho de 1822, as insensatas Cortes de Lisboa enviavam numerosa tropa para dominar o país. José Bonifácio tomou medidas da maior gravidade, como declarar inimigas as tropas que Portugal mandasse para o Brasil, por meio do decreto de 1º de agosto, em que D. Pedro se dava como ‘regente do vasto Império do Brasil pelo consentimento e espontaneidade dos povos’ e, com isso, declarava guerra a Portugal.
Então, juntamente com Gonçalves Ledo, Bonifácio redigiu o extenso documento de 6 de agosto de 1822, onde expunha o legítimo ressentimento por três séculos de dominação, e avisava ao mundo que os brasileiros não mais admitiriam a volta ao regime anterior.
Independência ou Morte
No final de agosto, três navios vindos de Lisboa aportaram no Rio, com notícias de que as Cortes tinham decidido reduzir o príncipe a simples delegado temporário, e apenas nas províncias onde exercia autoridade.
José Bonifácio era quem estava na mira das Cortes, considerado o maior responsável pelos acontecimentos. Ele, então, escreveu a D. Pedro: “O dado está lançado e de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores. Venha V.A. quanto antes e decida-se, porque irresoluções e medidas d’água morna, à vista desse contrário que não nos poupa, para nada servem e um momento perdido é uma desgraça”. Com sua carta seguiram cartas de D. Leopoldina, esposa de D. Pedro, simpatizante das iniciativas de Bonifácio, incitando o marido ao gesto, além de uma carta de Antônio Carlos, e outra de Henry Chamberlain.
O emissário, Paulo Emílio Bregaro, encontrou D. Pedro, que voltava de Santos, leu as cartas, demonstrou sua grande indignação, e, ao encontrar a Guarda de Honra que o esperava nas margens do riacho Ipiranga, comunicou que as Cortes queriam ‘massacrar’ o Brasil.
Eram quatro e meia da tarde de 7 de setembro de 1822, e o príncipe, num verdadeiro brado, exclamou: “É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal”.
José Bonifácio, confirmado ministro do Interior e dos Negócios Estrangeiros, foi tomando providências no novo governo. Por decreto de 18 de setembro, descreveu as armas e a bandeira brasileira como se mantiveram até 1889. Por outro decreto, também de 18 de setembro, criou o tope nacional brasileiro, verde e amarelo.
A história segue ainda conturbada, mas, eis aqui, o motivo pelo qual o santista José Bonifácio de Andrada e Silva é considerado, com a atuação dos irmãos Andradas, o Patrono da Independência, declarado assim, oficialmente, apenas em 11 de janeiro de 2018.
Pantheon dos Andradas
O Pantheon dos Andradas é o jazigo, em Santos, onde estão as cinzas de José Bonifácio de Andrada e Silva e de seus irmãos Antonio Carlos, Martim Francisco e Patrício Manuel, inaugurado em 7 de setembro de 1923.
O templo cívico ocupa o espaço da antiga portaria do Convento do Carmo e conta com monumento projetado pelo escultor Rodolfo Bernardelli, feito na Itália.
A estátua jacente, em relevo, de José Bonifácio de Andrada e Silva encontra-se no centro do salão principal – sob ela, em duas caixas de aço, está grande parte de seus restos mortais. Durante 31 anos, o corpo ficou sepultado na nave do altar-mor da Igreja do Convento do Carmo, sem nenhuma identificação mais significativa, até que, em 1869 foi colocada uma laje de mármore enaltecendo o santista.
Confeccionada em mármore branco, à esquerda do monumento do patriarca está a urna funerária de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, iluminada por pequeno lustre pendente de vidros coloridos. A urna funerária de Martim Francisco Ribeiro de Andrada encontra-se à direita do monumento ao patriarca e, sobre ela, lustre pendente de vidros coloridos preso a duas correntes formando um triângulo invertido, um dos símbolos da Maçonaria, à qual pertenciam os irmãos Andrada.
O Pantheon dos Andradas fica na Praça Barão do Rio Branco, 16, no Centro de Santos.
Ilustração: plenarinho.leg.br/