Março de 2021. A vida não está nada fácil. Estamos gritando nos corredores dos hospitais. Estamos gritando em casa, por socorro. O Planeta está em chamas. As “minorias” gritam. Chega de alguns “ismos”: fascismo, machismo, capitalismo, especismo, negacionismo…
Os animais gritam, os negros gritam, os indígenas gritam, as mulheres gritam, as classes operárias gritam, os LGBTQI+ gritam, os brasileiros gritam! Em meio a um governo negacionista, a tantas mortes, a incerteza do amanhã, estamos no mês de recordes da pandemia, no mês que representa a luta feminina, estamos na semana em que jovens do mundo todo estão se manifestando por mudanças urgentes contra o aquecimento global.
Diante deste contexto, temos muito que gritar, desabafar, manifestar e conversar aqui. Temos que pedir urgentemente por mudança. Esse cenário diz muito de nós e do que temos feito com nosso Planeta e com nossas vidas, corpos e saúde. Estamos vivendo em meio a incêndios (concretos e subjetivos) e apenas apagando o fogo com leves assopros ou vendo a chama tomar conta. Desculpem o peso que traz este texto… mas também acredito que o escrevo em forma de grito, de desabafo!
Mês de março, mês que representa a luta feminina de sempre. Em meio a tantas questões para refletirmos e agirmos, quero trazer aqui uma reflexão acerca de um tema que conecta vários dos gritos citados acima. O grito de quem sente o aquecimento global é o mesmo das mulheres.
Mas o que ecologia tem a ver com feminismo?
O Ecofeminismo é uma frente epistemológica do feminismo que enxerga a opressão contra a natureza com a mesma fundamentação que a opressão contra o feminino. São formas muito parecidas de manifestar soberania, domínio e possessividade diante de corpos, sejam eles de animais, ou de mulheres.
Assim como uma mulher não existe para ser posse de um homem, ou para ser geradora, um animal não existe para suprir o capricho ou a necessidade do ser humano. São de lutas afins que estamos falando aqui. Precisamos nos atentar sobre que tipo de massacre estamos sendo cúmplices a cada ato, escolha, ação e não-ação. As consequências estão mais que estampadas!
As causas ambientais têm majoritariamente mulheres a frente. Hábitos mais ecológicos são praticadas muito mais por mulheres. O cuidado e a preocupação com o meio ambiente são vistos como algo delicado e feminino, afastando muitos homens que temem “se efeminar” com essas atitudes. Um bom exemplo disso temos na nossa alimentação.
Vem crescendo cada vez mais o número de pessoas adeptas ao veganismo e, na sua grande maioria, estas pessoas são mulheres. Neste caso, fica evidente o quanto os homens são vítimas da nossa cultura patriarcal e machista, pois temem olhar para seu lado feminino (que homens e mulheres têm), o que gera dessaúde para ele e devastação/desequilíbrio ambiental para o todo.
Comprovadamente uma alimentação a base de vegetais é mais saudável e traz menos danos ao ecossistema, a depender de como estes alimentos são produzidos e sem falar da opressão e maus-tratos sofridos pelos animais servidos a alimentação humana.
Para o capitalismo e machismo opressores é interessante que a mulher seja vista de forma reducionista, como a progenitora, camufladamente dizendo que isso é amor e passividade. O capitalismo sustenta aqui o machismo, pois não é interessante que mulheres sejam autônomas e deixem de gerar a mão-de-obra que faz a máquina do sistema girar.
Que semelhança isso tem com a exploração animal?
Uma vaca, por exemplo, também é dominada por sua capacidade progenitora, pelo leite que seu organismo gera. Estes animais também são vítimas dessa visão reducionista, onde tiram-lhe a liberdade de ser quem se é, de simplesmente ser e ter seu corpo livre. A partir daí, nos damos o direito de explorar o leite e o ovo que os corpos da dona galinha e a da dona vaca produziram para seus filhos, e não para nós.
A ativista ecofeminista indiana Vandana Shiva diz: “Ecofeminismo não se trata apenas das mulheres, é uma outra ordem para a comunidade humana, para que haja respeito por todos os seres na Terra, pela comunidade planetária, para haver respeito por todos os seres humanos, independente de raça, gênero, etnia, religião ou classe. É reconhecer que em todas as nossas diferenças, somos iguais. Igualdade não significa semelhança e a diversidade pode ser a base da igualdade.”
A luta por um mundo melhor passa pelo útero, seja animal, seja humano. Os úteros gritam! Que tipo de opressão estamos deixando acontecer? De que relações de igualdade estamos falando? Todos os seres merecem ser livres. Gritemos, gritemos muito por esse mundo de igualdade que queremos!
O que o Ecofeminismo tem a ver com você?
Foto: Thomas Oldenburger | Unsplash