Na minha opinião, não há resposta mais sensata para esta pergunta do que: teremos de descobrir! Apesar de haver muitas teorias sobre o perfil do turista no pós-pandemia, a maioria delas não passa de especulação, de hipóteses.
Isso porque o comportamento daqueles que estiverem dispostos a viajar nos próximos meses estará, inevitavelmente, ligado a condições que ainda nem se mostraram. A descoberta da vacina, o índice de infectados (e de letalidade) e os protocolos adotados pelo destino que pretende visitar serão aspectos preponderantes no comportamento do novo turista.
Alguns fatores, no entanto, parecem evidentes, como a tendência por viagens de curto deslocamento; uma preocupação maior com as questões de higiene e sanitização; a preferência por destinos e atrativos turísticos sem aglomeração e uma maior importância às experiências mais humanizadas e conectadas à natureza.
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Uma pesquisa encabeçada pela Interamerican Network, em parceria com o site Catraca Livre e outras associações da América Latina, na primeira quinzena de junho, identificou que 34% das pessoas têm como maior preocupação ao decidir uma viagem nos próximos meses as questões de segurança sanitária, saúde e higienização e 18% priorizarão lugares que não são cheios. A boa notícia é que 46% dos entrevistados pretendem viajar ainda em 2020 e outros 26% podem viajar se encontrarem boas promoções.
Entre os pesquisados, ainda, 54% farão viagens domésticas e 39% vão preferir destinos de praia, 18% culturais e 13% ecoturismo e contemplação. Dos brasileiros pesquisados, 33% vão buscar opções de viagens na internet, enquanto 30% seguirão recomendações de amigos e 10% da imprensa e jornalistas especializados.
Mas, quanto tempo isso deve durar? O turismo passará por uma transformação definitiva? Destinos de massa estão com os dias contados? Novamente, teremos de descobrir! O que não dá é pra não fazer nada, porque, afinal, quatro meses de impactos precisam ser minimamente recuperados, ainda que pouco se pode fazer pelo que já se perdeu.
Arregaçar as mangas
Então, agora que boa parte dos destinos brasileiros começam a retomar as atividades gradativamente, é hora de arregaçarmos bem as mangas, já que não podemos dar as mãos. Eis alguns fatores que precisam ser levados em consideração com relação ao novo turista – e ao seu negócio ou destino no novo turismo:
– É preciso conhecer bem esse novo turista e, sim, discutir com ele quais são seus novos interesses e limites. Cuidado para não colocar todo mundo na mesma caixa, pois haverá pessoas dispostas a se aventurar mais e outras mais comedidas. Esteja aberto para ouvir e mais atento que nunca.
– A sensibilidade nunca foi tão importante ao receber alguém e agora o acolhimento precisa ser sentido pela expressão dos olhos, já que sorrisos estarão tapados pelas máscaras e o toque não é aconselhável. Sorria com os olhos e com o tom de voz! Os destinos e os negócios do turismo precisarão aprender a ser gentis. Árdua tarefa para muitos!
– Os protocolos de segurança, higiene e sanitização exigidos pelas autoridades e adotados pelos estabelecimentos trazem amparo racional ao turista, uma segurança já esperada, mas você precisará ampará-lo emocionalmente, para conquistar sua confiança e deixá-lo a vontade e tranquilo.
– Turismo é emoção, toque, sensação, experimentação e socialização. Boa parte disso não será possível por enquanto. Você terá que ser criativo e surpreender, com parcimônia.
– Sabe aquela tríplice que quase nunca sai dos discursos para a prática: poder público, iniciativa privada e terceiro setor trabalhando juntos, dialogando e respeitando atribuições? Pois é… se não for agora, não será mais. É clichê, amigos, mas, sim, a união vai fazer a força dos destinos no ‘novo turismo’.
– Não importa se você é um resort ou uma pousada; um restaurante estrelado ou aquele quiosque na praia, um empresário ou um prefeito, a sua cidade ou o seu negócio não estavam preparados pra isso. Então, seja humilde, busque informações, parcerias e capacitação.
– Talvez, de alguma forma, precisemos voltar ao que o turismo foi no passado, uma atividade de contemplação, até que tudo volte aos trilhos e o turismo de experimentação ganhe forças novamente. A experimentação não deixará de existir neste novo momento, mas ela deverá ser mais personalizada.
– E, por fim, um novo momento merece uma nova marca, com uma comunicação forte, coerente e honesta, que atraia o turista com argumentos racionais, mas o retenha com apelos emocionais; que promova a retomada da economia local, mas resguarde a saúde e a integridade dos profissionais, dos visitantes e da população.
Caros amigos, o novo turismo não cabe no velho formato. E você também não!