Quantas vezes você já ouviu a frase do título?
Gente dizendo que em Santos, na Baixada Santista, não há nada para se fazer. Caso queira se divertir, descobrir novidades, tem que subir a serra, ir pra São Paulo, pegar um avião ou um navio, para qualquer outro lugar melhor que este arquipélago pouco criativo. Eu já a ouvi um montão de vezes e sempre fico incomodado. Na minha opinião, é uma frase que diz muito mais sobre quem a evoca do que sobre nossa região.
Mudei-me para Santos em 2011. Antes, vivi em São Paulo e Brasília. Cresci em Jundiaí. Já estive em algumas cidades do Brasil e do mundo, sobretudo na América Latina e Europa. O que me atraiu para cá foi a possibilidade de uma vida menos tumultuada, com espaços públicos abundantes e onde eu pudesse transportar meus filhos de bicicleta – já faz tempo que vendi meu carro.
Encontrei isso e muito mais. Encontrei, por exemplo, uma região que ainda preserva uma cultura radicalmente democrática, provavelmente reflexo de seu passado revolucionário, quando era conhecida como Barcelona ou Moscouzinha Brasileira. Uma cidade em que convivem diferentes projetos e coletivos culturais vibrantes, que se reúnem em torno da Vila do Teatro (Trupe Olho de Rua), realizam saraus periféricos, ocupam espaços públicos (Maracatu Quiloa e Garrafada).
Uma região com escritores como Maria Valeria Rezende, Manuel Herzog e Javier Arancibia Contreras, poetas como Ademir Demarchi, Marcelo Ariel, Flávio Viegas Amoreira e Preta Rara, com artistas plásticos como Olivia AForca, Fixxa e Fabrício Lopez, que tem uma livraria de rua como a Realejo, também promotora do festival Tarrafa Literária, e espaços culturais de resistência, como o Coletivo Novo Paraíso, em Cubatão, o Arte no Dique e o projeto Luzes da Vila, em Santos.
Uma região que tem coletivos de permacultura (que se reúnem às quartas-feiras no Estúdio Lobo), hortas comunitárias, festas de rua, festivais de literatura, cinemas públicos, cinemas de rua, grupos e coletivos de teatro, músicos excelentes, samba tradicional, no Ouro Verde ou na União Imperial, clube do choro, botequins antigos, como os do Marapé, ou novos, como o do Tonhão, no Valongo, novos espaços culturais independentes, como o Mundi, a Casa Fórum ou o Buracos.
Na minha coluna, que estreia nesta edição, irei partilhar minhas andanças pela cena santista, contando histórias de seus personagens e projetos, com foco na criatividade e na ação coletiva. Afinal, a mudança que queremos depende de gente boa fazendo coisas boas juntas. E a despeito da autoimagem que parte da elite local convoca: há muito acontecendo por aqui.