Na verdade, Bernardino não era de Campos, nem de Santos, apesar de dar nome a um dos sete principais canais que cortam a cidade. O dois. Bernardino José de Campos Junior era de Pouso Alegre, em Minas Gerais, mas ganhou projeção nacional, como político, advogado e jornalista.
Quando esteve em Santos, em outubro de 1914, provavelmente não teve tempo de comer uma batata recheada de calabresa com muçarela, ali na esquina do Canal 2 com a praia. Muito menos se acabou no frango à passarinho regado a alho do Q’Frango, o que, para mim, já não justifica a homenagem.
Sua passagem por aqui foi rápida, pois desembarcou no porto, vindo com a família da Europa, pra onde tinham ido cuidar da saúde da esposa, que era de Campinas, aliás. De Campos, mesmo, ninguém. Também com aquele frio todo que faz lá.
Talvez se, à época, eles soubessem que Campos seria o terceiro lugar preferido dos santistas depois de Maresias e do Outback, teriam passado ao menos um inverno no Capivari.
Bernardino teve o pai assassinado, o que o levou às lutas forenses, como advogado de acusação. Mas foi quando se casou com Francisca, e foi morar em Amparo, que iniciou sua carreira política. Foi vereador várias vezes, senador, deputado e duas vezes presidente do governo do estado de São Paulo. Republicano, abolicionista e antimonárquico, foi diretor do jornal republicano O País e fundou o Jornal da Época, além de ter fundado, com Campos Sales e Prudente de Morais, o Partido Republicano Paulista.
Quando estava à frente do governo de São Paulo, em 1892, uma grave epidemia de febre amarela se alastrou do litoral paulista, por causa do porto de Santos, até Campinas. Bernardino – de Pouso – mobilizou uma grande equipe de engenheiros e médicos e conseguiu livrar toda a região da doença. Com certeza, foi por Campinas, terra de Francisca, já que de Santos ele não tinha nada. Nem de Campos.
Da série ‘Histórias que podiam ter sido – Crônicas de Santos’
* Personagens reais, com alguns fatos reais e histórias, obviamente, fictícias