O pão de cará, macio e levemente adocicado, é um dos ícones santistas, patrimônio imaterial e cultural da cidade desde 2022
A presença do cará, o tubérculo, na receita, ainda hoje levanta muitos questionamentos. Algumas teorias especulam que após a Primeira Guerra, o trigo, que era importado e desembarcava dos navios no porto santista, encarecia a produção de pães, então os padeiros daqui começaram a incluir tubérculos nas receitas, para baratear. Um deles, o cará, deixava os pães mais macios e docinhos.
Há quem diga, no entanto, que a receita nunca levou cará e que o nome do pão se dá pelo formato e cor dessa iguaria tão santista. Mas, independentemente de qual versão é a correta, o fato é que hoje há padeiros e chefs fazendo pão de cará com cará por aqui, mas eles são exceções.
O pão de cará que todo mundo come e a única versão que a maioria dos santistas conhece não tem cará. Ao que tudo indica, o pão de cará foi incluído na merenda das escolas municipais nos idos de 1960, mas já sem o cará. Ali ele começou a povoar as mesas santistas e não saiu nunca mais. Em 1980, o setor da panificação passou a considerá-lo um pão especial e, com isso, claro, o preço subiu nas padarias.
Patrimônio santista
Em 2022, o pão de cará subiu de nível: virou patrimônio imaterial e cultural santista e ganhou o mesmo status que iguarias como o bolo de rolo, de Pernambuco; o pão de queijo de Minas Gerais e o acarajé da Bahia.
Renomados chefs e restaurantes santistas resgataram o passado desse pãozinho e ‘trouxeram o tubérculo de volta’ para a receita. Criações como o shrimp roll, um sanduíche de pão de cará com camarões e maionese temperada, do chef Dario Costa, do Madê e do Paru, ou uma versão do english pudding, com pão de cará, do chef Franklin Bin, eleita por Henrique Fogaça como a melhor sobremesa da história do reality culinário MasterChef, elevaram ainda mais a autoestima dos apaixonados pelo pão.
E tem hamburgueria de sucesso, com DNA santista, a Seven Kings, também usando o pão de cará em seus famosos burgers, e uma manufatura queridinha na cidade, a Revo Manufactory, com fornadas diárias de pães de cará. Com cará.
Festival Gastronômico Sanducará
Recentemente, o Sinaspan, sindicato da categoria, lançou a primeira edição do Festival Sanducará, estimulando as padocas de Santos e região a criarem sanduíches autorais usando o nosso queridinho. Vale dizer que as padarias das cidades vizinhas, na Baixada Santista, também vendem pão de cará e há boatos de que nosso pãozinho doce já chegou até na capital.
Com o festival, vossa majestade ganhou inúmeras outras versões, com combinações bem interessantes – todas sem cará – e nomes muito sugestivos. O caralouco é um sanduba de carne louca, o calagarto leva lagarto à vinagrete, o caraipira tem sobrecoxa desossada e o caracolis tem omelete de brócolis, entre outras invenções.
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Em um workshop promovido pelo Sinaspan, durante o festival, o chef Jeff Silva ensinou padeiros e interessados a fazer o tradicional pão de cará, mas com cará.