Um navio cheio de histórias e surpresas no Parque Valongo

A embarcação de pesquisas Professor Besnard está sendo recuperada e deve se transformar em um equipamento cultural e turístico

A partir do dia 5 de julho, Santos ganha o tão esperado Parque Valongo, um complexo de lazer, com armazém para eventos, quadra de beach tênis, playground, pier de contemplação e deck de atracação

Nós já contamos por aqui que a Roda Gigante que os santistas tanto queriam também já está por lá (leia a matéria aqui). Mas o novo espaço de lazer, turismo e eventos da cidade terá mais um atrativo cheio de histórias para contar e que deve surpreender com novas atrações nos próximos meses.

Trata-se do Navio Oceanográfico Professor Wladimir Besnard, que está atracado bem ali, junto do Parque Valongo, e promete roubar a cena de moradores e turistas. A embarcação, que já pertenceu à USP (Universidade de São Paulo) e hoje está sob posse do IMAR (Instituto do Mar), foi concebida para realizar pesquisas nos oceanos.

Nos últimos seis meses, o Navio Professor Besnard, que estava em total estado de abandono junto ao cais santista, ganhou novo aspecto, sob os cuidados de João Carlos de Souza. O experiente profissional da área naval assumiu a zeladoria voluntária da embarcação e fez com que o navio ganhasse destaque, bem no momento em que todas as atenções estavam voltadas para o Parque Valongo.

Com isso, um projeto de total revitalização da embarcação prevê um museu, um cinema e até um ice bar a bordo do Besnard. Conforme explica João Carlos, as entregas devem ser feitas por etapa.

“Para a inauguração do Parque Valongo, o navio já está limpo e pintado, integrando o complexo, mas em cerca de dois meses estará aberto à visitação guiada e, aos poucos, com recursos de patrocínio, teremos os outros atrativos a bordo”, explica.

João Carlos e sua empresa Petro Centter assumiram os cuidados da embarcação para que ela não fosse desmontada, como vinha sendo cogitado, e desde o começo de 2024, vem lutando para que o Professor Besnard volte a ter a imponência que já teve, servindo, agora, ao turismo, à cultura e à educação.

Ele e mais um ajudante, o Pedro Manoel Ferreira da Silva, tiraram todo o limo do navio por fora (veja fotos abaixo), limparam por dentro, esvaziaram toda a água de chuva que havia se acumulado durante os últimos anos e pintaram o navio por fora.

Há cerca de quatro meses, o arquéologo Hugo Tavares se juntou à equipe, e é ele quem conta, a seguir a riquíssima história do Navio Oceanográfico Professor Wladimir Besnard.

* Com colaboração de Hugo Tavares

Ancorado e à deriva, uma breve história do Navio Prof. W. Besnard

Estacionado em Santos, no novo Parque do Valongo, o navio de pesquisas Professor Wladimir Besnard, conta uma história longa, repleta de reviravoltas, agora adormecida. Suas aventuras se iniciam pela figura que dá nome à embarcação.

O Professor Wladimir Besnard

Em 1946, professor e já renomado pesquisador russo Wladimir Besnard, aceitou uma proposta dos professores Paul Rivet e Louis Fage, em termos com o Governo do Estado de São Paulo, para a criação de um Instituto de Oceanografia, hoje Instituto de Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

Residindo em São Paulo, o Professor Besnard fundou a base oceanográfica de Cananeia e foi o primeiro diretor do Instituto Oceanográfico de São Paulo. Mesmo com a precariedades da época e estágios iniciais do instituto, liderou dezenas de missões pelo Brasil e mundo a fora.

Mas o ilustre pesquisador jamais conheceria o navio que hoje leva seu nome, o russo faleceu em São Paulo, no dia 11 de agosto de 1960.

O Navio Oceanográfico Professor Besnard

Carregando um nome de tamanho peso, o navio não poderia nos deixar a desejar. Com mais de 200 missões pelos oceanos do mundo, e pelo menos seis expedições a Antártida, o N/Oc. (Navio Oceanográfico), não só colocou o Brasil no mapa das pesquisas dos mares, como possibilitou que nossa nação sentasse à mesa com outros países, quando o assunto era o continente gelado ao sul.

Com domicílio oficial em Santos, o Navio de pesquisas foi o pioneiro brasileiro a explorar os mares gelados. Memórias que muitos pesquisadores até hoje podem nos contar com vivacidade e alegria.

Histórico do Navio

Concebido por engenheiros da escola politécnica da USP e construído no estaleiro de Bergen, na Noruega, a embarcação de pesquisas lançou-se ao mar em 1967. Em sua viagem para o Brasil, o navio já contava com uma tripulação brasileira, e veio para cá realizando sua primeira pesquisa: a expedição “Vikíndio”. Uma mistura das palavras “viking” com “índio”.

Mesmo chegando ao Brasil por Recife, foi apenas no porto de Santos, em 10 de agosto de 1967, que o navio foi oficialmente batizado pelas autoridades brasileiras. A cidade o abraçou, e em troca, o navio fez residência permanente aqui.

Conquistando os mares, anos 70

O navio realizou inúmeras pesquisas nos mares da costa brasileira, como as correntes marítimas e as rochas no fundo dos oceanos. Com sua presença no Brasil, as pesquisas dos mares, poderiam alcançar o oceano. Ficando até meses sem aportar.

O Brasil na Antártida, anos 80

Talvez sua maior aventura tenha sido sua indispensável viagem a Antártida. Viagem que abriu os mares gelados para o Brasil, lhe conquistando um assento permanente no Tratado Antártico e fundando sua primeira base de pesquisas lá.

12 horas à deriva, adeus Antártida

No retorno da sua última expedição ao continente gelado, o navio foi pego num mar revolto. Sua hélice subia e descia, por vezes girando em falso fora d’água. O eixo da hélice se partiu.

Depois de 12 horas derivando no Estreito de Drake, o Besnard foi resgatado. Atracado no Chile, recebeu reparos e voltou para casa. Porém, a sentença estava dada: nunca mais faria a travessia para a terra do gelo.

Navio escola, dos 90 a 2000

Não obstante a dificuldade enfrentada no retorno da Antártida, o navio se manteve na ativa. Realizando outras dezenas de pesquisas, formando novos alunos, e tornando pesquisadores amadores em cientistas profissionais. Tudo isso em águas nacionais e internacionais.

Fim de Carreira e abandono

Em novembro de 2008, quando fundeado no Rio de Janeiro, um incêndio ameaçou a integridade e confiança no navio. Desde então, a embarcação ficou à mercê de rebocadores. Derrotado, o Prof. Besnard foi guinchado até o Porto de Santos, e deixado no cais, frente ao antigo Armazém 7.

Depois de 41 anos de serviço, de aventura históricas e aberturas de portas para a nação e para a USP, o navio foi deixado ao relento. Pouco a pouco descomissionado, primeiro perdendo o direito de navegar, após o fogo. Depois os pesquisadores foram embora, finalmente a tripulação deixou o navio. Com eles, a universidade levou peças simbólicas, como a roda de leme, o intuito era o de conversar as peças para o futuro.

Naufrágio em Ilhabela

Mediante ao desleixo, o município de Ilhabela mostrou interesse em tornar o navio um ponto turístico, no fundo do mar. O plano era tornar o famoso navio de pesquisas em um recife para peixes, ou uma escola para mergulhadores.

Entretanto, Ilhabela já detém naufrágio célebres, como o Príncipe de Astúrias. A cidade não precisava de mais um navio para formar crustáceos no solo marítimo. E o destino parecia saber disso.

Instituto do Mar e a salvação

Mesmo com as andanças burocráticas para que o navio fosse para Ilhabela, o IMAR (Instituto do Mar), sediado em São Paulo e presidido por Fernando Liberalli, comprou a briga para salvar o navio.

O presidente não sabia para qual aventura o velho Besnard o estava levando. Depois de um punhado de especialistas indicarem os riscos do ambientais do navio, a sentença para o desmonte e corte do navio, restaram poucas forças para realmente tratar da reativação da embarcação.

Foram longos anos de luta judicial, enfrentando pessoas com visões limitadas sobre este patrimônio santista, girando pratos cada vez maiores e mais numerosos.

Ao fim, o presidente Liberalli estava prestes a se dar por vencido e entregar o professor Wladimir a sua própria sorte, uma reincidência para o navio. Foi então que um importante personagem entrou em cena.

Petro Centter e a Restauração

Quando menos se esperava, um novo ator ingressou na peça. A figura de João Carlos de Souza, representando a empresa Petro Centter, assumiu o navio como um filho. E tal qual um pai, ele serviu e cuidou de sua cria, sem esperar nada em troca. Assim foi o contrato da empresa com o Instituto do Mar.

Sob o nome de ‘zeladoria voluntária’, a Petro Centter vem a bordo da anciã embarcação. Limpeza, manutenção e zelo seriam as primeiras tarefas que empresa cumpriria. No entanto, logo o cenário mudou, com a entrada em cena do Parque do Valongo, lançando a Petro Centter na missão de restaurar o velho professor Besnard.

Créditos: Diego Brígido (Fotos 1-2-3-4) | A Tribuna (Foto 5) | Estadão (Fotos 6 – 7) | FAU USP (Fotos 8-9-10-11) | Pesquisa: Hugo Tavares

Diego Brígido

Jornalista e turismólogo
Editor da Revista Nove  e do Guia 9 de Bares e Restaurantes
Autor do fotolivro ‘Santos Paladares: pessoas que temperam a cena gastronômica santista’

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