Turismo tumular no Cemitério do Paquetá. Por que não?

O Cemitério do Paquetá tem, ao todo, 25 mil metros quadrados e 5652 campas.

São 10 irmandades religiosas que ocupam o solo do Paquetá, com 2174 campas que ficam em áreas demarcadas, mantidas pelas igrejas. As demais campas pertencem ao município.

Bento da Silva Filho, coordenador dos cemitérios de Santos, explica que as irmandades chegaram primeiro, junto do Cemitério dos Estrangeiros, que já ficava na região. “Só depois é que as campas municipais foram sendo construídas”, conta Bento.

Ele ainda revela que, além do portal de entrada, com a inscrição “In Pace Idpsum Dormian Et Requiescam” – “Descansem em paz os que dormem eternamente”, a capela e o traçado da circulação interna, 26 campas são tombadas pelo Condepasa (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos).

“Dentre as campas que pertencem ao município, 98% são perpétuas, ou seja, praticamente não temos mais espaço disponível no Paquetá”, eclarece o coordenador.

Em nosso ‘tour’ pelo Cemitério do Paquetá, fomos recebidos também por Edineia Alves de Oliveira, chefe de sessão da Prefeitura de Santos, e Thiago Braz da Silva, sepultador e chefe de área, que conhece cada pedaço do cemitério e a história de todas as personalidades ali enterradas.

“Nós gostaríamos que o Paquetá fosse um equipamento cultural e turístico da cidade, porque tem muitos vultos importantes aqui, além da rica arquitetura presente”, explica Thiago.

Bento revela que a equipe está na expectativa do restauro do cemitério e da área no entorno. “Já que o VLT vai passar por aqui, podemos aproveitar este fluxo e tornar o local atraente”, aponta Bento.

Thiago explica que o Cemitério do Paquetá, pela idade, é o que tem o maior número de personalidades enterradas, mas que os cemitérios da Filosofia e o da Areia Branca também têm muita história pra contar.

“Nós recebemos aqui turistas e até estrangeiros que vêm apenas pra conhecer, além de estudantes de arquitetura e arquitetos”, conta Thiago.

Bento ainda revela que há dois vultos ilustres no cemitério que recebem homenagens constantes, o poeta e médico Martins Fontes, que recebe cravos com frequência, e Esmeraldo Tarquínio, o primeiro prefeito negro da cidade.

Edineia e Thiago nos guiaram para conhecermos as campas famosas do Paquetá, enquanto contavam curiosidades sobre o local e as personalidades.

No percurso eles nos revelaram que, além dos vultos famosos, há também pessoas importantes, que ajudaram a construir a cidade, mas que não são conhecidas. Algumas em campas tombadas, inclusive, como o Jazigo da Família Macuco; as campas do historiador Francisco Martins dos Santos, que ajudou a registrar a história da cidade e de João Galeão Carvalhal, um dos líderes do abolicionismo em Santos, além do Cemitério dos Estrangeiros, onde eram enterrados os protestantes, entre muitas outras.

São 26 campas tombadas, o que faz do Paquetá uma verdadeira galeria a céu aberto.

Entre as personalidades, estão enterradas  no Paquetá figuras como o ex-Governador, Mario Covas; Benedicto Calixto; Vicente de Carvalho; Renata Câmara Agondi; Edson Cabariti (o Bolinha); Aristóteles Ferreira; Othon Feliciano e, mais recentemente, Gilze Francisco, presidente do Instituto Neo Mama, que faleceu em 2021, em decorrência de complicações da Covid-19, além de muitas outras.

São tombadas no Cemitério do Paquetá, desde janeiro de 1997, as seguintes campas:

Cemitério dos Estrangeiros em Santos; Ana Franco de Andrade Maylasky; Carlota Patusca Guimarães; Francisco Martins dos Santos; Henrique Amando de Azevedo; José Serafim Cardoso; Manoel Joaquim Ferreira Neto; Maria Carlota Porchat de Assis; Maria Piedade de Souza e Costa; Rodolpho M. Guimarães; SilvinoAlves Correa; Thomaz Antonio de Azevedo; Vicente Augusto de Carvalho; Ernesto Candido Gomes; Jazigo da Familia Macuco Borges; Antonio da Silva Azevedo Junior; Antonio Bias da Costa Bueno; José Domingues Martins; Joaquim Xavier da Silveira; José Olimpio Lima; Benedito Calixto de Jesus; Carlos Augusto Vasconcelos Tavares; João Galeão Carvalhal; Jose Martins Fontes; Alamir Martins; Julio Ribeiro.

Os critérios levados em conta para o tombamento foram antigüidade, valor artístico e importância histórica da personagem.