Sua história é digna de filme, mas sem DiCaprio, Kate Winslet ou sequer atores americanos e sim japoneses.
Sua história é digna de filme, mas sem DiCaprio, Kate Winslet ou sequer atores americanos e sim japoneses. Muitos atores japoneses. E russos. Kasato Maru foi construído no Reino Unido e batizado inicialmente de Potosi. Comprado pela Rússia em 1900, passou a se chamar Kazan e foi utilizado como navio-hospital durante a Guerra Russo-Japonesa.
Com a derrota na batalha, em 1905, os russos deveriam entregar o navio aos japoneses como indenização de guerra. Contrariados, afundaram o Kazan. Os orientais o recuperaram e o adaptaram para transportar passageiros e levar de volta ao Japão os soldados que haviam lutado na Manchúria.
Nos anos que seguiram, 1906 e 1907, o então Kasato Maru passou a transportar imigrantes japoneses para o Havaí, Peru e México. Em 1908, o Brasil entra na história, quando após uma viagem de 52 dias, com início no Porto de Kobe, em 18 de junho, o navio aporta em Santos, no cais do Armazém 14, com o primeiro grupo oficial de imigrantes japoneses, constituído por 781 pessoas (165 famílias).
Em busca de melhores condições de vida, os japoneses que aqui chegaram foram trabalhar nos cafezais do oeste paulista. A assinatura da Lei Áurea, que libertou os escravos em 1888, provocou uma grave crise agrícola e os fazendeiros de café reivindicavam mão-de-obra. Então, em 5 de novembro de 1895 foi assinado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, que abria as nossas portas aos japoneses.
Já haviam imigrantes japoneses no Brasil antes da chegada do Kasato Maru, mas foi a chegada deste primeiro grupo que iniciou um fluxo contínuo de japoneses para o Brasil, que hoje somam mais de um milhão e quinhentos.
O Kasato Maru ainda voltou ao Brasil em 1917, como navio cargueiro, até que passou a fazer parte da esquadra japonesa na Segunda Guerra Mundial e, em 1945, foi bombardeado – novamente pelos russos – e afundou no Mar de Bering.
Expedição Científica Kasato Maru
É um sonho da comunidade nipônica brasileira resgatar as peças do navio, que ainda se encontra submerso no mar gelado da Rússia, na Península de Kamchatka. Para isso, a pedido da Embaixada da Federação da Rússia no Brasil, o Governo Russo designou a Sociedade Geográfica Russa para coordenar uma expedição que não só resgate as peças do navio naufragado, como realize uma pesquisa científica, que envolve questões como aquecimento global e biologia marinha. A Rússia volta à história, desta vez para ajudar.
O acervo encontrado deve vir para o Brasil em 2017 e compor mostras itinerantes por todo o país. Uma das peças irá ficar com o Governo Japonês para uma exposição definitiva no Porto de Kobe, onde toda a história começou. Dá ou não dá um filme?