Parece haver exagero nas definições, mas nem sempre a tríade, água, malte e lúpulo deu certo. Tudo bem que o lúpulo já era conhecido dos romanos, porém só passou a ser cultivado como ingrediente para finalidade cervejeira no final do primeiro milênio d.C.
Até o século XV, grande parte das cervejas europeias usavam variados ingredientes e muitos com princípios psicoativos elevados. Alecrim, absinto, noz-moscada, canela, zimbro, gengibre eram comuns também. Durante muito tempo esse foi o tipo de cerveja consumida, chamada de Gruit.
Neste período, a Igreja católica controlava os insumos de produção da Gruit e o lúpulo é pouco difundido nas receitas. Porém, ganhará força ante o cartel da Igreja católica em consonância com a moral ascética que vai desembocar no renascimento. O caminho aberto pelas cervejas lupuladas diz muito pela contraposição com a Gruit, quase mística e pagã, por assim dizer. E a lei de pureza alemã, de 1516, virá reforçar o padrão água, malte, lúpulo.
No show da Madonna no Rio de Janeiro, uma cena chamou atenção e me fez lembrar da vinda da família real para o Brasil. É sabido que D. João VI era um glutão, que devorava frangos como ninguém. Pelo menos 9. Mas ele também gostava de uma cervejinha, e nos treze anos que ficou por aqui, sempre que podia (ou tinha), dava uns goles. É o que nos diz Antônio Houaiss, destacando que no porão das naus, D. João VI mandou descer tonéis de Spatembrau, Porter, Guiness e Heineken.
A cena em si, é sobre a Heineken nas mãos de Madonna. Algo que me fez pensar sobre o abissal desse país e o quanto precisávamos mesmo daquele espetáculo televisionado. Sei que pode parecer meio Guerra Fria, mas Madonna fala beer e nós cerveja. O entretenimento norte americano, sucateado por lá, achou aqui seu quinhão de ouro. Bebo, logo existo. Madonna não me pega.
* O texto acima é inteiramente de responsabilidade do cronista e não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Nove.