Anthony Bourdain, chef de cozinha norte-americano, apresentador e escritor, cometeu suicídio na noite de 8 de junho de 2018, na cidade de Kaysersberg, França.
Seu livro mais conhecido, Cozinha confidencial, causou grande frisson na época do lançamento e ficou meses na lista dos mais vendidos no jornal The New York Times.
A bordo do navio transatlântico Queen Mary, Anthony Bourdain foi fisgado pela comida. A experiência aconteceu com um prato de sopa no refeitório da embarcação. Um prato de Vichyssoice, a intrigante sopa branca, que o deixou “consciente da língua”.
Passeando com a família na França, o adolescente Anthony decide encarar todo tipo de preparo e prato. Com um misto de rebeldia e niilismo, confronto e negação dos pais, como no emblemático encontro com a ostra. Estranho destino, pois no mesmo território de sua alvorada culinária, décadas mais tarde, o palco do poente eterno.
Cozinha confidencial é um livro que merece ser lido por todos aqueles que se interessam por cozinha e gastronomia. Escrito num jorro potente, sem meias palavras ou mistificar o mundo das panelas, poético e lírico em alguns instantes, mesmo quando relata jornadas extenuantes de trabalho, pias entupidas, entregas que atrasam ou alimentos reaproveitados, apesar de autobiográfico, é um livro bem atual.
Reverberando o movimento de contracultura norte-americano, o livro franqueia-se ao lado de escritores da chamada geração beat, de quem o autor gostava, como William Burroughs e Allen Ginsberg, num misto de deboche frente ao american way of life e da estetização do comer.
Certa vez, numa entrevista quando já ia o primeiro ano de mandato de Donald Trump, Bourdain foi entrevistado e lhe perguntaram sobre qual prato serviria num eventual jantar para o então presidente. Sem se fazer de rogado, disparou: cicuta! Pena que Anthony Bourdain se antecipou ao jantar na madrugada do dia 8.
* O texto acima é inteiramente de responsabilidade do cronista e não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Nove.