Entre todos os acontecimentos históricos que ocorreram em Cubatão, talvez o mais recente seja o menos conhecido. Poucos são os cubatenses que sequer conhecem a história do bombardeio à Usina Hidroelétrica Henry Borden, em 1932.
Na época do incidente, a cidade era apenas um distrito de Santos, vindo a se emancipar somente 17 anos depois, em 1949.
Por sua vez, a usina Henry Borden tinha o maior potencial de produção de energia da América do Sul, além de ser a única que abastecia São Paulo diretamente. O episódio do bombardeio foi mais um dos efeitos da Revolução Constitucionalista de 32 (chamada Guerra Paulista).
São Paulo tinha uma grande autonomia na fabricação de carros e trens blindados, munição e armamento. Devido à grande importância da Hidrelétrica para a indústria bélica de São Paulo, o governo federal ordenou o ataque com o intuito de cortar a energia das fábricas e cessar sua produção.
Em 1987, durante uma entrevista ao Departamento de Patrimônio Histórico da Eletropaulo, o ex-funcionário da Usina Henry Borden, Waldemar Barbosa, que à época tinha 17 anos de idade, narrou o que aconteceu.
“No dia 28 de julho de 1932, mais ou menos às 10 horas, surgiu voando sobre a área da usina um hidroavião Savoia-Marchetti, escoltado por outro avião de caça, geralmente conhecidos como ‘vermelhinhos’. Ao passarem por um terreno com plantação de bananas, acerca de mil metros da usina, lançaram uma bomba que abriu uma cratera de mais de 15 metros de diâmetro. Este ato foi mais tarde admitido como uma advertência para a paralisação da usina. No dia seguinte (29), também às 10 horas, os aviões retornaram ao ataque. Lançaram uma bomba sobre a usina, tendo acertado o edifício em que ficavam as chaves desligadoras, por pouco não acertaram em cheio os transformadores”, lembra Waldemar.
Em um exemplar antigo do A Tribuna foi relatado que “em consequência do ataque a usina foi totalmente desligada a fim de examinarem os estragos causados pela bomba. Prosseguindo na sua missão de garantir o abastecimento de energia a São Paulo, a usina reiniciou suas atividades da unidade 1, no dia 2 de agosto, e da unidade 2, no dia 5. Porém, no dia 7 os aviões reapareceram, mas antes de um novo ataque a usina foi totalmente desligada. Não havendo novos bombardeios a usina voltou a funcionar no mesmo dia e não houve mais aviões”.
Mais tarde, em agosto daquele ano, a empresa divulgou um comunicado sobre as consequências do bombardeio. Felizmente não houve grandes prejuízos para a usina e apenas três funcionários se feriram, mas nada que fosse considerado grave.
Ainda assim, os jornais da época relataram o pânico que foi gerado nas vilas operárias. Apenas os trabalhadores da Hidrelétrica ficaram nas casas da Vila Light, nos arredores da Usina Henry Borden.
Suas famílias foram levadas para a Vila Fabril, nos arredores da Cia Santista de Papel.
O jornal ‘A Gazeta’, publicou à época não acreditar que o governo tinha por objetivo destruir a usina, pois seria uma grande perda para a nação, mas que sua verdadeira intenção era amedrontar psicologicamente e moralmente os revolucionários.
Por Isis Canonici
Jornalista