Você em algum momento imaginou a cidade de Santos em um dia de sol sem uma única pessoa na faixa de areia da praia? Surreal, não?
Mas é essa a paisagem que temos encontrado. Já que o vírus que assusta a humanidade impôs férias forçadas ao turismo mundial.
Várias medidas restritivas são adotadas para diminuir o fluxo de pessoas entre as cidades. E é interessante percebermos como tudo se modifica de acordo com as circunstâncias.
A prática do turismo, outrora ingresso para o descanso e para o lazer, um portal que potencializa a interação com diferentes culturas e propicia o autoconhecimento, se torna inviável, impraticável.
Viajar a lazer, uma atividade em busca da sanidade torna-se, em um momento como esse, um sinônimo de alienação e irresponsabilidade.
E nós, profissionais do turismo e de empresas que dão suporte a essa atividade? O que será do nosso futuro?
Guias de turismo, agentes de viagens, profissionais de hospedagem como recepcionistas, camareiras e mensageiros; profissionais de eventos, como organizadores, coordenadores de serviços; profissionais da área de alimentos e bebidas, como bartenders, garçons e tantos outros profissionais que dão suporte às atividades do turismo de lazer e negócios, veem suas vidas profissionais como uma viagem que foi interrompida e sem data prevista para continuar.
É um panorama assustador! Parece um filme de ficção científica onde nos foi tirada a liberdade do convívio com as pessoas e de exercer uma atividade que pode ser tão gratificante profissionalmente.
É hora de refletir
Mas como tudo na vida tem os dois lados, essas férias forçadas dão uma pausa ao automatismo da vida cotidiana, e dão uma oportunidade a reflexão.
O que mudará na ‘nova normalidade’? Quais serão mudanças de comportamento dos turistas? Quais serão seus interesses? Como estará a imagem do Brasil no exterior? Será que serão adotadas medidas significativas para que o Brasil possa melhorar seu baixo desempenho na captação de turistas internacionais?
E pensando localmente… como faremos para que Santos e sua região sejam mais competitivos?
Como turismólogo e guia de turismo estou ciente da importância histórica e cultural da cidade e da região. Não é uma ideia minha, é uma realidade constatada e confirmada através do depoimento de inúmeros turistas que venho recebendo há alguns anos. Mais ainda estamos abaixo do nosso potencial de desenvolvimento.
Continuando os questionamentos… por que ainda não estruturamos o turismo de forma regional? Por que não se veem “pacotes de viagem” para a nossa região a disposição nas operadoras de turismo nacionais e internacionais?
Iria mais longe. Por que contamos nos dedos de uma mão, o número de agências que se dedicam exclusivamente ao turismo receptivo? E ainda… por que é insuficiente a quantidade de guias de turismo locais bem capacitados para atender os navios de cruzeiro, havendo assim a necessidade de serem contratados guias de turismo vindos da capital?
E, por que os cursos de capacitação no turismo são cada vez mais escassos e aqueles que se formam não encontram um ambiente de trabalho promissor?
São muitas as perguntas. Mas, as respostas podem revelar caminhos a serem tomados para impulsionarmos o Turismo, cada vez mais importante, mais valioso.
Novos caminhos para a retomada do Turismo em Santos e região
Acredito que o propulsor do avanço do nosso Turismo será a maior articulação e o fortalecimento da integração entre os atores que formam a cadeia produtiva do turismo. Essa é uma diretriz contemplada no Plano Diretor de Turismo da Estância Turística de Santos e deve ser a grande norteadora das ações públicas e em harmonia com as ações entre a iniciativa privada e as organizações do terceiro setor, como o Santos Convention & Visitors Bureau.
A sinergia entre esses atores do mercado turístico é fundamental para o momento em que as condições sanitárias sejam reestabelecidas e as pessoas voltem a viajar. Ela deve propiciar uma promoção do destino Santos de maneira mais eficiente e que desperte o interesse dos turistas de lazer e dos produtores de evento, tanto em âmbito nacional, como internacional.
Também precisamos pensar no incremento do Turismo não somente de maneira quantitativa, mas principalmente de forma qualitativa. Imagine se mais turistas que frequentam as nossas praias ou a compromissos profissionais também visitassem os inúmeros equipamentos turísticos da nossa cidade, conduzidos por guias de turismo competentes e que por sua vez, fossem contratados por agências de turismo especializadas. Certamente a experiência turística seria mais completa e interessante!
Entendo que as assembleias do COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) são o ambiente mais propício para o estímulo da sinergia entre os players do turismo. Essas reuniões devem ser propositivas e com forte participação da iniciativa privada, que é aquela que mais sofre com os impactos dessa crise e que mais conhece as questões mercadológicas.
A ‘Cidade Criativa’ precisa de um Turismo criativo
Quando retomarmos a “normalidade” é importante que continuem sendo realizados os famtours (programas destinados a agentes de viagens) e os press trips (destinados aos profissionais da imprensa), para que, ao conhecerem a nossa cidade, estes formadores de opinião possam difundir os atrativos e produtos turísticos. Assim, mais pessoas terão o interesse em visitar a nossa região.
Nessas ações, devemos aproveitar de maneira criativa a história do Santos F. C. e do Rei Pelé, a importância do café para o crescimento da cidade e a interessante logística do nosso porto, o maior da América Latina. Passeios temáticos atendem nichos de mercado distintos e ampliam o nosso leque de oferta turística.
Podemos ser ainda mais inovadores se, por exemplo, aproveitarmos o crescimento da “cena cervejeira santista”, para estimularmos programações noturnas pela cidade.
O criativo e o diferente são notícia e geram mídia espontânea. Ambos põem o destino na vanguarda do Turismo e na memória das pessoas. A iniciativa privada não pode estar de fora do processo criativo e da viabilização comercial.
Assim que as ‘férias forçadas do turismo’ cessarem, poderemos contar com o novo Centro de Atividades Turísticas (CAT) que está sendo construído na Ponta da Praia e que promete dar um novo fôlego para a nossa cidade. Ela já é reconhecida como um destino para a realização de eventos. Tanto é que foi escolhida para sediar o evento da UNESCO das Cidades Criativas, sendo a primeira vez que será realizada na América do Sul.
Boas perspectivas
Temos que aproveitar essa nova tendência mundial do turismo chamada Bleisure (uma mistura dos termos em inglês bussiness e leisure, negócios e lazer), onde as pessoas que visitam um destino para atividades de negócio, aproveitam seu tempo livre para realizar atividades de lazer.
Devemos também aproveitar cada vez mais a proximidade com a capital e o interior do Estado, que é o maior emissor de turistas do país. Uma das tendências será a realização de viagens mais curtas.
Como turismólogo, não tenho dúvidas de que o Turismo, quando realizado de maneira sustentável pode gerar o desenvolvimento econômico, social e ambiental. E como santista espero que cada vez mais pessoas conheçam como a nossa linda cidade.
A crise vai passar! E quando voltarmos a ver os turistas tirando fotos, teremos a certeza de que as férias forçadas para o Turismo finalmente acabaram.
Diogo Dias Fernandes Lopes é turismólogo, guia de turismo e agente de viagens