Resolvi escrever este texto como uma coluna assinada e não como matéria, porque seria, pra mim, muito complicado falar sobre Odarcio Oliveira Ducci com imparcialidade, com o olhar neutro do jornalista que apenas reproduz uma biografia.
Tive a alegria de passar a infância e a adolescência no Ilha Porchat Clube, e lá vivi alguns dos momentos mais divertidos, dramáticos e aventureiros da vida. Depois dos meus pais e da minha avó, Odarcio foi a primeira figura a quem eu ‘devia certa obediência’ – na época, obviamente, eu não admitia isso (e tampouco ele podia desconfiar).
O fato é que, como presidente do Ilha Porchat Clube, era a ele quem tínhamos que recorrer sempre que queríamos uma ‘autorização’ para um amigo não sócio entrar na piscina (quem lembra daquele ritual onde ele assinava no cartão de praia o prazo da autorização e a quantidade de pessoas autorizadas a desfrutarem daquele paraíso que era o complexo de piscinas do clube?). Bastava um final de semana de sol, e lá estávamos nós, os ‘seguidores’ do Odarcio.
A molecada tinha um ritual para ir falar com ele e sabíamos que o melhor momento era quando ele estava tomando o seu farto café da manhã no terraço do restaurante, frente-mar, preferencialmente acompanhado. Vaidoso, ele adorava demonstrar sua autoridade e ‘bondade’ e, dependendo do seu humor e do movimento do clube, dava pra garantir um mês inteiro de autorização free para os amiguinhos na piscina.
Advogado paranaense, de Cornélio Procópio, Odarcio dedicou 38 anos de sua vida ao Ilha Porchat Clube, e morreu, em 15 de julho de 2016, aos 74 anos, na Santa Casa de Santos, ao sofrer complicações após uma cirurgia para retirar pedras nos rins. Ele já havia sofrido quatro AVCs e, após o quinto, em maio de 2013, apresentava a saúde mais debilitada.
Da mesma forma que, quando de bom humor, o presidente distribuía sorrisos e autorizações, quando não, acabava com a festa da molecada, fazendo com que nós, sócios, precisássemos decidir entre largar o amiguinho na praia e ir curtir a piscina com os demais ou ficar na praia, com a ala dos excluídos. E, claro, isso o fazia ser odiado por muitas vezes. De seguidores, nos tornávamos ‘haters’ do Odarcio.
Ele também era o perverso que nos suspendia por um dia, uma semana ou um mês quando aprontávamos alguma, como um salto coletivo de ‘copinho’ (quando você pula encolhido e abre pernas e braços ao encostar na água, banhando todos ao redor) da plataforma na piscina, para molhar o presidente e algum convidado todo pomposo que chegava junto desfilando pelo deck.
Não dá pra dizer que Odarcio passou despercebido pelo Ilha Porchat Clube e sequer por São Vicente e mesmo pelo Brasil. O clube chegou a ter mais de 10 mil sócios.