Localizada entre os municípios de Itanhaém e Peruíbe, a 35 km da costa, no litoral paulista, a Ilha da Queimada Grande se destaca como uma das joias naturais mais impressionantes do Brasil
Atualizada em 09.04.2024
Não é apenas a sua rica fauna que chama a atenção, mas também a alta concentração de serpentes (primeira do Brasil e segunda do mundo), em particular a espécie conhecida como Jararaca-ilhoa.
A história remonta aproximadamente dez mil anos, durante o fim da era glacial, quando a ilha era um morro continental. Com o aumento do nível dos oceanos, cerca de 11 mil anos atrás, a ilha foi formada, isolando-a do continente e criando um ambiente único para a evolução de suas espécies. Algumas jararacas comuns ficaram presas durante esse processo, dando origem à Jararaca-ilhoa, uma espécie adaptada ao seu ambiente.
Além de sua importância científica, a Ilha da Queimada Grande, conhecida cono Ilha das Cobras, abriga alta densidade populacional de serpentes venenosas. Estima-se que existam entre duas mil e quatro mil Jararacas-ilhoa na ilha, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio.
A Jararaca-ilhoa, aliás, não é a única espécie endêmica que vive por lá. No entanto, ela é uma das serpentes mais mortíferas do mundo, tornando a ilha um ambiente desafiador para os pesquisadores e um dos lugares mais perigosos de todo o globo para visitação.
A minúscula perereca Scinax peixotoi também existe apenas na Queimada Grande, e vive na água acumulada no interior das bromélias. Outras espécies, como as populações locais de alguns lagartos e anfisbenas aguardam estudos mais detalhados para definir sua distinção das populações do continente.
Essa característica única atrai estudiosos e pesquisadores interessados em entender melhor a evolução e adaptação das espécies em ambientes isolados como esse. A alta população de cobras por lá tem relação com a falta de predadores e a grande oferta de alimentos. Elas precisaram se adaptar às condições da ilha, como a falta de mamíferos terrestres que as levaram a caçar aves.
Outras características tornam a Ilha da Queimada Grande um lugar perigoso: não há água potável por lá, o clima é muito quente e o desembarque no local é arriscado, em função da grande quantidade de penhascos e rochedos.
Queimada Grande
O nome se dá ao fato de que, no passado, quando pescadores locais precisavam desembarcar ali, só conseguiam após atear fogo na encosta, para espantar as serpentes.
Mercado ilegal
Devido à demanda do mercado ilegal, por cientistas e colecionadores, os traficantes de animais selvagens se aventuram na Ilha da Queimada Grande, para capturar serpentes, que têm alto valor na ilegalidade.
A caça ilegal, além da degradação do habitat e doenças, afetaram a população de serpentes na Queimada Grande, que diminuiu quase 50% nos últimos 15 anos.
Desembarque proibido
Devido ao alto risco, é proibida a visitação à ilha, somente pesquisadores do Instituto Butantan, que trabalham lá desde 1984, têm acesso devido a necessidade do uso de equipamento de proteção adequado.
Além disso, essa ilha só pode ser acessada por meio da cooperação da Marinha do Brasil e também é exigida a presença de um médico em qualquer visita legal, para o caso de algum ataque acontecer.
Apesar dos riscos associados à presença dessas serpentes venenosas, a Ilha continua a ser um importante local de estudo e conservação da biodiversidade brasileira, servindo como um verdadeiro santuário para as jararacas e outras espécies que ali habitam.
É também considerada uma farmácia viva, já que a industria farmacêutica mundial vê as serpentes como alguns dos tesouros da biodiversidade brasileira, pois as proteínas do veneno das jararacas têm alto interesse biomédico.
Também há o interesse de biólogos e cientistas em transformar a Ilha da Queimada Grande em um parque marinho, com o intuito de proteger milhares de corais e espécies vulneráveis e em extinção da fauna marinha.