Nesta sexta-feira (13), Santos celebra os 262 anos de nascimento de José Bonifácio de Andrada e Silva com a inauguração de um novo memorial dedicado ao Patrono da Independência, destacando sua trajetória que vai muito além do Grito do Ipiranga, com contribuições à ciência, à política e à sociedade em três continentes
Atualizada em 13.06.2025
Nascido em 1763 na então Vila de Santos, na antiga Rua Direita (atual Rua XV de Novembro), o santista conhecido como Patrono da Independência deixou marcas profundas não apenas no processo que culminou com o 7 de setembro de 1822, mas também em áreas como ciência, educação, meio ambiente e política internacional.
A celebração de 2025 ganha um novo capítulo com a inauguração do Memorial José Bonifácio, às 16h, na Casa das Culturas de Santos, na Vila Nova. O espaço convida o público a mergulhar na trajetória de Bonifácio por meio de objetos históricos, documentos, medalhas, bustos, livros e amostras de minerais descobertos por ele. A abertura também marca a data simbólica em que Santos é reconhecida como capital simbólica do Estado, em homenagem ao filho mais ilustre da cidade.
No memorial, os visitantes percorrem uma linha do tempo que vai do nascimento do estadista à sua atuação como mentor da Independência do Brasil, passando por sua influência nas decisões de dom Pedro I, seus artigos sobre preservação ambiental e sua atuação como cientista de reconhecimento internacional.
Mais do que o ‘Patriarca da Independência’
Figura presente em livros escolares como conselheiro de dom Pedro I e articulador do rompimento com Portugal, José Bonifácio também teve papel decisivo no fortalecimento do projeto de uma nação brasileira soberana e justa. Com ideias progressistas para sua época, defendeu igualdade racial, reforma agrária, proteção às florestas e a valorização da educação pública.
“José Bonifácio foi o único estadista que o Brasil realmente teve. Seus valores eram a igualdade e a justiça”, afirma a economista Graziela Ribeiro de Andrada, sua descendente.
Além da política, Bonifácio brilhou no campo da ciência. Entre 1800 e 1808, na Europa, descobriu minerais como a petalita e o espodumênio, dos quais se extrai o lítio, hoje essencial para tecnologias sustentáveis como baterias de carros elétricos e celulares. Graças a esse feito, é o único brasileiro ligado à introdução de um elemento da tabela periódica. A Universidade de Coimbra criou, exclusivamente para ele, a cátedra de Mineralogia.
Visão ambiental e legado internacional
José Bonifácio é considerado um dos primeiros pensadores brasileiros a alertar sobre as consequências do desmatamento e da exploração desenfreada da natureza. Em artigo de 1823, escreveu:
“Nossas preciosas mattas vão desaparecendo, víctimas do fogo e do machado destruidor (…), e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes (…), sem o que o nosso bello Brasil ficará reduzido aos páramos e desertos da Lybia.”
Sua importância transcende fronteiras: Bonifácio é reverenciado em Portugal, onde lutou contra a invasão napoleônica e implantou siderúrgicas modernas; tem uma estátua no Bryant Park, em Nova Iorque; e foi homenageado em leis brasileiras que o reconhecem como Herói Nacional e instituem o Programa Memória de José Bonifácio.
Presente em Santos
Na cidade onde nasceu, sua memória é celebrada em espaços públicos como a Praça José Bonifácio, o Pantheon dos Andradas (onde está sepultado), a escola UME José Bonifácio e o Palácio José Bonifácio, sede da Prefeitura. Mais recentemente, foi instalado o Boniselfie, um monumento interativo em tamanho real na Praça Barão do Rio Branco, feito para conectar gerações à sua imagem.
Segundo o historiador Dionísio Almeida, da Fundação Arquivo e Memória de Santos, a ação de Bonifácio foi decisiva na articulação da ruptura com Portugal.
“Ele aproveitou o clima de insatisfação com as ordens da Coroa e liderou o Conselho de Estado que decidiu pela Independência. Sua carta a dom Pedro I, enviada poucos dias antes do Grito do Ipiranga, é um marco da nossa história”, comentou Dionísio.
Com o novo memorial, Santos renova o compromisso de manter viva a memória de José Bonifácio, um homem que uniu o passado e o futuro com ideias ainda urgentes no presente.
O Memorial José Bonifácio inaugura no dia 13 de junho, às 16h, na Casa das Culturas de Santos (Rua Sete de Setembro, 49 – Vila Nova/Santos), com entrada gratuita. A exposição pode ser visitada de quinta a sábado, das 14h às 18h.
Foto: Divulgação/PMS