Com a morte do ator que interpretava Pantera Negra, Chadwick Boseman, nas telonas a questão representatividade e representações de personagens negros retornou as nossas conversas cotidianas. Qual o impacto das representações positivas de pessoas negras na televisão, livros e filmes?
Compreender a história é uma das muitas maneiras de quebrar o ciclo. Durante seu discurso, feito para estudantes da universidade de Oxford, Chadwick Boseman falou sobre esteriótipos sugeridos a personagens negros em roteiros de filmes e programas de tv. Onde os personagens são descritos como pessoas em conflito com a justiça, usuários de entorpecentes ou de pais incapacitados, assumindo assim uma trajetória única, reducionista e linear para um grupo de pessoas.
Chadwick Boseman sabia da importância da representatividade e do potencial transformador do cinema e das artes na vida de pessoas negras. Desde o anúncio do seu falecimento, desconhecidos e celebridades têm compartilhado condolências, pensamentos e memórias sobre a comoção ao ver o primeiro super herói negro na franquia de filmes do gênero. A atriz Whoopi Goldberg pediu em seu twitter para o grupo Disney fazer um parque temático de Wakanda, como homenagem ao protagonista de Pantera Negra.
A discussão a cerca de representatividade nas múltiplas telas tem ganhado força com a internet e tem gerado mudanças na forma que consumimos diversos produtos e serviços. Por exemplo, Oscars So White, que nas últimas edições das premiações do Oscar tem pontuado a falta de diversidade entre os indicados aos principais prêmios, e Time’s Up, contra assédio e agressão sexual dentro da indústria cinematográfica.
Outra maneira é a viabilidade de cargos de lideranças ou ainda o financiamento de jovens negros em suas carreiras. Enquanto estudava direção na Universidade de Howard, uma professora de Boseman o indicou a um curso de atuação em Oxford. Sem dinheiro para pagar o programa de verão, a tutora pediu a um amigo próximo… “Havia uma carta do beneficiário dizendo que Denzel Washington pagou por você”, disse Chadwick em entrevista ao Tonight Show With Jimmy Fallon. Denzel Washington e Boseman só se encontraram pessoalmente na pré-estreia de Pantera Negra, em Nova York em 2018.
A representação de corpos vivos em posições de poder e altivez nos estimula a perceber os nossos marcadores sociais (classe social, gênero, raça, etnia, sexualidades, etc) como um elemento das nossas identidades e não um fardo que nos marginalizam. Compreender a sua história e estimular a de corpos distintos é também uma forma de quebrar o ciclo.
Esteja bem e que seja bem recebido pelos nossos ancestrais, Chadwick Boseman 🙂