É possível que a Biquinha de Anchieta, em São Vicente, seja a mais antiga do Brasil, pois ela já estava onde está, na região central de São Vicente, antes da chegada de Martim Afonso, em 1532
Aliás, datam de 1515 e 1520 as primeiras notícias da ‘Fonte do Povoado’, como era conhecida a Biquinha de Anchieta, ainda na época em que o degredado português Mestre Cosme Fernandes, o Bacharel de Cananeia, vivia pelas redondezas.
O Morro do Tumirarú, hoje Morro dos Barbosas, próximo da praia Mahuá, hoje conhecida como Praia da Biquinha, ostentava duas nascentes de água potável para atender aos grupos sociais da época, o que incluía o povoado de Cosme Fernandes. Uma delas, a Fonte do Povoado (Biquinha), ficava mais próxima à praia, enquanto a outra, a Fonte dos Padres, deu origem ao riozinho, depois conhecido como Rio do Sapateiro, onde hoje se encontra o reservatório municipal, no Morro dos Barbosas.
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Havia ainda uma terceira fonte, do outro lado do Morro, após a atual Ponte Pênsil, na região chamada Paquetá, que atendia ao primeiro porto e povoado de Cosme Fernandes, onde ele se escondia da corte portuguesa.
A biquinha de Anchieta
Mas foi a primeira que ficou famosa, por sua localização, beleza cênica e pela qualidade de suas águas, que despejavam no riozinho onde hoje é a Praça 22 de Janeiro e que, depois virou palco de apresentações teatrais e preleções dos jesuítas.
Mais tarde, com a chegada de Martin Afonso de Souza e, em seguida, por volta de 1553, com a vinda dos padres jesuítas, Leonardo Nunes e Manoel da Nóbrega, a bica começou a ganhar mais importância. Coube a Leonardo Nunes fundar o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente, a oitenta metros da mesma fonte (Biquinha).
A ele também ficou a responsabilidade de criar, ali, uma primeira bica de serventia pública, na fonte tradicional, além de construir a primeira captação da cachoeirinha do Centro ou do Campo, por meio de um pequeno aqueduto, para os usos gerais ou maiores da coletividade jesuítica e vicentina.
Com a morte de Nunes, em um naufrágio, em 1554, José de Anchieta foi enviado às terras tupiniquins no ano seguinte, mas só seria realmente padre, com ordens maiores e de missa, em 1556, sagrado na Bahia. Depois disso, viria para a Capitania de São Vicente, para ser superior do Colégio vicentino entre 1567 e 1577.
Foi neste momento que a Bica da Fonte da Vila (antiga do Povoado) começou a ganhar fama, pois foi em seu entorno que Anchieta realizava sua meditações e em seguida começou a dar aulas de catecismo e primeiras letras portuguesas, para que seus meninos, os catecúmenos e órfãos brancos, sentissem melhor os seus ensinamentos.
Pouco mais tarde, montava ali também as suas peças teatrais, os seus conhecidos e famosos autos assistidos pelo povo e pelas autoridades locais, hoje considerados como origem e nascimento do Teatro no Brasil.
Foi ali que o ‘Apóstolo do Brasil’ ganhou sua fama de santidade e que a a bica do povoado consagrou-se como a Biquinha de Anchieta. Conta a história que Anchieta teria construído o primeiro paredão rústico da Biquinha, que atravessou alguns séculos.
O paredão da Biquinha passou por inúmeras transformações no transcorrer do tempo. Logo substituído por um belo painel em mosaico português. Depois, enaltecendo a milagrosa missão de Anchieta entre os índios, o mosaico foi substituído por um delicado trabalho de terracota em alto-relevo, inaugurado em 22 de janeiro de 1943, quando São Vicente comemorou 411 anos de fundação.
Mas, a obra foi toda depredada pelo vandalismo no mesmo ano e, então, um novo mosaico foi colocado no histórico cenário vicentino, onde até hoje se encontra, dividindo espaço com a também famosa feirinha de doces, que, de verdade, já não tem mais o charme de outrora.
* Com informações do site Novo Milênio