“Vai chegando que a gente vai chegar. Vê se rola, se tudo vai rolar. Só que sem samba não dá”. Este é o refrão da canção ‘Sem samba não dá’, do mais recente álbum, ‘Meu Coco’, de Caetano Veloso
* Matéria produzida sob demanda para a Revista Visite Santos, do Santos Convention & Visitors Bureau (abril 2023)
E não dá mesmo, principalmente em Santos, que já foi cenário de resistência do samba no Brasil, e terra em que o batuque chegou já nos idos de 1532.
De acordo com J. Muniz Junior, o Marechal do Samba Santista, os escravos, que chegaram em navios negreiros e foram dispersados em engenhos canaviais, como o Engenho de São João, é que trouxeram o batuque pra Santos.
“O samba chegou em Santos antes mesmo de chegar ao Rio de Janeiro ou em São Paulo. Os negros já batucavam nos cativeiros, dentro dos engenhos”, conta Muniz.
Em 1885, já havia uma espécie de desfile com carros alegóricos e, no começo dos anos 1900, surgiram os corsos carnavalescos, desfiles em carros de luxo abertos e ornamentados. A partir de 1920, começam a surgir os blocos carnavalescos, como o famoso Doroteia.
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Em 1936, o Rancho Carnavalesco Arrasta a Sandália Aí Morena foi às ruas e pode ser considerado o ‘embrião’ de uma Escola de Samba, segundo Muniz. Em 1944, foi fundada a X9, a pioneira santista, dentro dos padrões que definem uma agremiação carnavalesca como uma Escola de Samba.
Mas, o Marechal do Samba Santista conta que já na década 1930, no Monte Serrat, havia reuniões de bambas do samba. “Eles se encontravam após as procissões da capela em festas, onde eram revelados os bambas do samba, com rituais chamados de pernadas cariocas – como se fosse a capoeira -, disputados por representantes dos bairros santistas”.
O samba de hoje
Em diversos bairros da cidade viveram e vivem talentosos compositores e compositoras, músicos que fazem parte da vanguarda da cultura sambista brasileira, seja das agremiações e escolas, das ruas, dos terreiros ou dos bares.
Marcello Laranja, presidente do Clube do Choro de Santos, fundado em 2002, acredita que as novas gerações não valorizam o samba como as anteriores. “Aliás, poucos conhecem o samba verdadeiro, aquele chamado samba de terreiro”, lamenta.
Mas o Clube do Choro segue firme e, aliás, voltou com as atividades musicais, em sua sede, no charmoso bulevar da Rua XV de Novembro, com rodas de Choro e de Samba.
Para celebrar o Dia Nacional do Samba, todos os anos, no dia 2 de dezembro, acontece em Santos, a Alvorada do Samba, um evento idealizado pelo Marechal do Samba, J. Muniz Junir, que trouxe a cerimônia do Dia do Samba no início da década de 1960, após a oficialização da data.
Laranja explica que se trata de uma cerimônia ritualística, comandada pelo Marechal e seu filho Jadir Muniz, Cabo Mor do Samba, mais recentemente no espaço da antiga garagem dos bondes na Vila Mathias, atual sede da CET, e onde se localizam as ruínas do Quilombo do Pai Felipe, o primeiro rei batuqueiro da cidade de Santos.
Alexandre Cortez, violonista da Roda de Samba Da Melhor Qualidade, um dos mais tradicionais da cidade, criado na década de 1990, é outro entusiasta do samba santista. Ele acredita que o samba sempre terá espaço em qualquer lugar, inclusive em rodas de samba improvisadas nas esquinas.
“O Da Melhor Qualidade surgiu com amigos fazendo rodas de samba pelos bares da cidade. Com o tempo, os integrantes notaram que poderiam fazer algo mais profissional para aquela atividade. Não demorou muito para o grupo se destacar e valorizar nossa terra levando samba a todo o país”, conta Alexandre.
Uma representante da nova geração do samba na cidade é Rafaella Laranja, filha de Marcello Laranja, que cresceu nas rodas de Choro e Samba. Além de manter o movimento vivo em Santos, ela marca a potente, mas rara, presença feminina no samba, com o seu projeto Samba Laranja.
No repertório de Rafa há pagode também, para agradar a mais públicos, mas o samba está ali, muito bem representado. Sua voz e carisma têm levado a sambista a alçar voos mais longe, inclusive em Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
“Minha banda tem, no mínimo mais cinco integrantes, e minha xodó é a Grazy Tomaz, pois, pela primeira vez estou trabalhando com uma mulher na banda e isso me orgulha demais e prova que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no samba”, celebra Rafa.
E se você quiser sambar
Para quem quer cair no samba em Santos, opções não faltam. As quadras da X9 e da União Imperial têm programações frequentes com portas abertas à comunidade. A Roda de Samba e Choro da Ouro Verde também é tradicional na cidade e está de volta semanalmente, além da Sedinha do Marapé, o ‘quintal do samba’, o famoso samba de pé de morro.
Há, ainda, casas com rodas de samba e pagode, no Centro da Cidade, e bons bares com dias especiais dedicados ao samba, como o Café Carioca.
Nesta matéria aqui, você confere onde curtir um bom samba em Santos.
E se Caetano olha ‘pro Cristo ali no Corcovado’, santista olha pra Santa no Monte Serrat e também grita ‘Epa babá’, porque, afinal, sem samba, em Santos, não dá.
Fotos: Danilo Tavares